Em 23 de março de 2020 entrou em vigor o primeiro decreto com o objetivo de conter o avanço do coronavírus; 12 meses depois, lockdown
Representantes de classe e empresários fazem retrospecto sobre a pandemia em Votuporanga (Fotos: Arquivo pessoal)
Franclin Duarte
franclin@acidadevotuporanga.com.br
Votuporanga completou na terça-feira (23) exatos 12 meses de ações que tinham como objetivo frear o avanço da pandemia do coronavírus no município. No dia 23 de março de 2020, as portas do comércio local baixaram pela primeira vez em razão de um decreto municipal, mas, o que mudou desde então? O
A Cidade fez um levantamento dos números e conversou com empresários e representantes de classe para fazer um retrospecto da crise sanitária e econômica que domina o município até hoje.
Para relembrar, as primeiras restrições foram anunciadas em uma coletiva de imprensa, no Centro Cultural, do Parque da Cultura, pelo então prefeito João Dado (PSD), em 20 de março de 2020. À época, a cidade não tinha nenhum caso confirmado da doença e registrava 53 pacientes com sintomas suspeitos, mas mesmo assim, diante do grande apelo social em razão do avanço da pandemia em outros países e a chegada do vírus no Brasil, vários prefeitos optaram por adotar medidas restritivas, como aconteceu em Votuporanga.
Na ocasião, Dado determinou a suspensão do atendimento, por tempo indeterminado, em todos os estabelecimentos comerciais de Votuporanga, exceto os tidos como essenciais (supermercados, padarias, açougues, etc), mas reduziu o horário de atendimento das 7h às 18h.
O primeiro caso da doença em Votuporanga só foi registrado, no entanto, sete dias depois. Trata-se do médico Emílio Celso Barbieri, de 69 anos. O profissional da Saúde morava em São Paulo, mas mantinha uma empresa de medicina do trabalho em Votuporanga e vinha para cá a cada 15 dias. Foi numa dessas viagens que ele apresentou os primeiros sintomas e foi internado na Santa Casa.
Abre e fecha
Depois disso o comércio vivenciou momentos de incertezas, com medidas controversas e decretos polêmicos, como o que liberou as atividades comerciais, do dia 7 ao dia 10 de maio de 2020, período aquecido de vendas para o Dia das Mães. O caso foi parar na Justiça, que determinou medidas mais duras novamente.
“Com certeza, não esperávamos que ficaríamos tanto tempo sofrendo com a pandemia. Com o passar do tempo, muitos tiveram que reduzir seus quadros de funcionários e estoques e foram buscando soluções para se reinventar. Entendemos que é um abre e fecha difícil de acompanhar, mas é uma realidade enfrentada no mundo todo por um motivo maior que é a defesa da saúde. Dependemos da vacina e é por ela que precisamos lutar. Nossa expectativa é que com a maior imunização, possamos ir voltando a uma certa normalidade e que esses empresários consigam se reestabelecer. Estamos confiantes em dias melhores para breve”, disse Carlos Eduardo Ramalho Matta, presidente da ACV.
Nesse meio tempo, na madrugada do dia 10 de maio morreu a primeira pessoa por coronavírus em Votuporanga. Trata-se de Nair Ribeiro da Silva Almeida, de 85 anos, que morava no bairro Pozzobon.
Dez dias depois, o prefeito João Dado decidiu voltar a flexibilizar atividades comerciais e religiosas no município, por meio de um decreto que referendava as atividades essenciais definidas pelo presidente Jair Bolsonaro. Nessa época, o município registrava 29 casos e duas mortes provocadas pela Covid-19.
Crise sanitária
Votuporanga levou três meses para chegar a 100 casos de coronavírus e apenas 40 dias para passar dos 1.000. No dia 16 de julho, exatos 15 dias depois de superar a marca de 500 registros positivos, em 24 horas, 95 pessoas foram diagnosticadas e mais uma morte confirmada. Com isso, a cidade chegou a 1.056 infectados e 26 óbitos.
Atualmente, o município já superou a marca trágica de 200 mortes (203 no total) provocadas pelo coronavírus, mais de 50 delas só neste mês, e passou de 9,8 mil casos positivos da doença, que agora está ainda mais contagiosa, segundo médicos, em razão da variante de Manaus (AM).
“Estamos numa situação muito triste e preocupante, pois está morrendo muita gente. Essa nova cepa veio com muita força e está tirando a vida de muitos comerciários, falando da nossa classe, e isso nos assustou muito. Mas, os culpados somos nós mesmos, que muitas vezes não cumprimos o mínimo que a gente sabe que é usar máscaras, evitar aglomerações, prevenções. A população relaxou e hoje está um caos, as pessoas lutando para se salvar. Esse lockdown foi necessário aqui em Votuporanga para tentar frear tudo isso. O único meio hoje é a vacina, vacina já”, disse Lia Marque, presidente do Sincomerciários.
Crise econômica
E a pandemia não tirou “apenas” vidas. Ao longo desses 12 meses, mais de 800 pessoas perderam seus empregos formais, de acordo com os dados oficiais do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e dezenas de empresas tiveram que encerrar suas atividades, por não suportarem a crise. Os exemplos mais recentes e que ganharam repercussão foram o bar Morphine e a Garagem do Espeto. Na segunda, o restaurante do Filó também anunciou o fim das atividades.
“A incompetência dos que tocam a saúde pública brasileira, e Votuporanga não está fora desse contexto, é uma enormidade. Um ano, um ano, e até agora não encontraram um rumo e desde o começo o peso sempre cai nas costas do comércio, como se fossemos os culpados de tudo. Se continuar da forma que está, daqui dez anos estaremos na mesma situação, só não sei que comércio vai aguentar até lá”, disse João Herrera, presidente do Sincomércio.
Marcos Rogério Braz, que comanda a Imperial Tintas e o Summers Açaí, foi um dos empresários da cidade que sempre acataram as determinações sem muito questionar, mas segundo ele, a situação econômica nunca esteve tão complicada.
“Esse abre e fecha sempre foi um problema, mas a gente entende diante do que estamos passando em relação a crise de saúde. No ano passado, a gente ainda conseguiu se reinventar, manter, mesmo com as restrições, uma parte das vendas, mas agora a situação realmente está muito complicada e não é só para mim, tem muitos amigos nossos aí que, inclusive, já tiveram que baixar as portas. Estamos aqui lutando, conversando com fornecedores, pedindo mais prazos, e torcendo para que no final da semana tenhamos melhora na pandemia para podermos voltar às atividades”, disse o empresário.
23 DE MARÇO DE 2020:
0 casos confirmados
0 mortes
53 suspeitas
5 pacientes internados
2 na UTI
23 DE MARÇO DE 2021:
9.832 casos confirmados
9.083 curados
203 mortes
1.165 suspeitos
85 internados
39 na UTI
12.046 pessoas vacinadas