Esquema foi descoberto pela Polícia Civil de Valentim Gentil após vítima do município cair em fraude de R$ 38 mil
Esquema envolvia casais e jovens que movimentaram centenas de milhares de reais com golpes virtuais e lavagem de dinheiro (Foto: Divulgação)
Franclin Duarte
franclin@acidadevotuporanga.com.br
Uma investigação minuciosa da Polícia Civil de Valentim Gentil, vinculada à Delegacia Seccional de Votuporanga, colocou fim a uma organização criminosa que vivia como milionária às custas de vítimas enganadas pela internet. O grupo, que fingia vender máquinas agrícolas e outros produtos em anúncios falsos, movimentou centenas de milhares de reais em golpes eletrônicos, lavando o dinheiro em uma complexa rede de contas bancárias, mas agora foi condenado pela Justiça de Votuporanga.
Todo o esquema foi descoberto após o grupo criminoso enganar uma vítima de Valentim Gentil. Na ocasião, um produtor rural, V.J.Q., perdeu R$ 38 mil após tentar comprar uma máquina agrícola anunciada em uma rede social. A partir da denúncia, a polícia rastreou contas, celulares, chips e e-mails usados pelos criminosos, descobrindo um esquema nacional de fraudes digitais, com integrantes espalhados por vários estados.
A sentença, assinada pelo juiz Vinícius Castrequini Bufulin, da 2ª Vara Criminal de Votuporanga, descreve uma quadrilha estruturada como uma “empresa do crime”, com divisão de funções, uso de tecnologia avançada e lavagem milionária de dinheiro. Enquanto as vítimas eram enganadas por falsos anúncios e transferiam suas economias, os criminosos viviam uma vida de ostentação digna de novela.
O casal F.M.S. e T.A.R.M.S. morava em um condomínio de luxo em Indaiatuba (SP), em imóveis avaliados em até R$ 2 milhões. Com o dinheiro dos golpes, compravam relógios, perfumes importados, bolsas de grife e aparelhos eletrônicos de última geração.
Outro casal, G.L.M. e K.L.F., mantinha viagens internacionais, inclusive tinham uma passagem para Paris, além de movimentar mais de R$ 290 mil em apenas sete meses. Os dois criaram até uma empresa de fachada, usada para contratar serviços de telefonia PABX em nuvem, recurso usado por quadrilhas especializadas em golpes da falsa central bancária.
A Polícia Civil apontou que as movimentações financeiras eram “incompatíveis com qualquer trabalho lícito”. Somente a conta de T.A.R.M.S. recebeu R$ 687,8 mil em sete meses, sendo R$ 472 mil em dinheiro vivo, indício claro de lavagem de capitais. O esquema também envolvia jovens aliciados que atuavam como “conteiros”, responsáveis por receber, sacar e repassar valores de origem criminosa.
Entre eles estavam S.R.O.P., I.G.S., G.A.M., V.N.M. e J.V.A.F., todos condenados por integrarem a engrenagem que mantinha o fluxo financeiro da quadrilha. Relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) mostraram que os valores eram transferidos e sacados em cadeia, em quantias fracionadas, dificultando o rastreamento pela polícia. Os investigadores revelaram que a movimentação era “típica de quem trabalha profissionalmente para organizações criminosas”.
Delegacia pequena e com poucos policiais acabou com fraude milionária
A descoberta do esquema só foi possível graças ao trabalho da Polícia Civil de Valentim Gentil, que iniciou as investigações após o golpe sofrido por um morador da cidade. Mesmo com uma delegacia pequena e poucos policiais, a unidade desmantelou o grupo criminoso a partir de interceptações telefônicas e análises cibernéticas, pelas quais os agentes chegaram aos líderes da organização.
As defesas tentaram anular interceptações telefônicas, perícias digitais e buscas, alegando quebra de cadeia de custódia e cerceamento de defesa. O magistrado, porém, rechaçou os pedidos, afirmando que todas as diligências seguiram os parâmetros legais e foram essenciais para desmantelar o grupo.
Bufulin ressaltou que os crimes cibernéticos exigem métodos de investigação modernos e que as interceptações foram “fundamentadas e proporcionais”. O juiz destacou que a investigação “merece elogios, não críticas”, por desvendar um grupo que se espalhava por vários estados brasileiros, utilizava linhas telefônicas em nome de terceiros e se escondia atrás de endereços e contas falsas.
O magistrado reconheceu a materialidade e autoria dos crimes de fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e organização criminosa, mantendo a prisão preventiva de parte dos réus e declarando foragido um dos principais articuladores, G.L.M.. As penas variam entre 11 anos de prisão (aos líderes) e 7 anos de cadeia. Ao todo, nove membros da organização criminosa foram sentenciados.