Ao atravessar o Oceano Atlântico, deparei-me com o inesperado. A travessia de um oceano, seja literal ou figurada, exige coragem. Não podemos atravessá-lo sem primeiro aceitar o risco de perder de vista a costa. Na vida, essa costa representa a família, os amigos, o conforto da rotina e a segurança do conhecido. Quando decidimos nos afastar dela, enfrentamos o desconhecido, mas também abraçamos a chance de realizar nossos maiores desejos. A viagem que há anos estava em meus planos finalmente se concretizou. Tomei coragem, soltei as amarras e naveguei até não ver mais a terra firme. Somente ao realizar o desejo percebe-se que a coragem não é algo que se sente antecipadamente. É um reconhecimento posterior, um tributo que damos ao passado. A coragem, por assim dizer, está sempre na esteira do barco, acompanhando a trajetória já percorrida. No entanto, algo curioso acontece: não deixamos rastros. Os caminhos desaparecem atrás de nós, como se nunca existissem. O que fica são os traços intangíveis que nos deixam, como as cartas, as fotos, as memórias. Desde criança, eu sonhava em ver ao vivo as maravilhas da arte que os livros escolares me mostravam. As esculturas impecáveis em mármore branco, como aquelas encontradas nos antigos santuários, representando a vitória e a glória dos guerreiros. As pinturas vibrantes dos mestres. Obras de uma perfeição quase divina, que eu jamais imaginei poder ver fisicamente. Mas nunca desisti desse sonho, e um dia fui agraciada com a oportunidade de realizar essa viagem tão desejada. De mochila, cruzei o Atlântico e cheguei à Europa. Em cada monumento, em cada esquina, uma beleza inenarrável me cercava. Com a entrada em Portugal, fiquei cativado pela riqueza cultural e pela beleza histórica que encontrei em cada cidade. A arquitetura deslumbrante e as paisagens encantadoras revelaram-se um verdadeiro tesouro. A Torre de Belém, os Mosteiros impressionaram. as colinas íngremes e as vistas do rio Douro foram destaques, palácios com a beleza única de cada detalhe que deixaram uma impressão duradoura. Na Espanha, foi uma exploração das catedrais históricas e Basílicas como a Catedral de Santiago de Compostela, além da icônica Sagrada Família em Barcelona que com sua própria história e estilo, proporcionou momentos de reflexão sobre a grandiosidade da arte e da espiritualidade. A viagem continuou pelo mediterrâneo passando ao sul da França, onde me encantei com as cidades medievais, a herança romana, as praias. Finalmente, adentrei na terra de meus antepassados na Itália, em Roma, a Basílica de São Pedro e a Pietá de Michelangelo, no Vaticano, foram momentos de contemplação únicos. A Torre inclinada de Pisa, com sua construção em mármore branco, parecia tombar aos pés. Cada lugar visitado deixou marcas profundas. Fotografar essas experiências foi mais do que capturar imagens, foi registrar a essência dos momentos. Cada clique era uma tentativa de eternizar a alma do que via e tornaram-se mais do que simples registros visuais, mas guardiãs das emoções e das histórias vividas. A autenticidade dessas imagens reside na intimidade com que foram capturadas, refletindo não apenas o que os olhos viam, mas o que o coração sentia, transcendendo a técnica e a estética, numa emoção pura e conexão genuína com o que estava sendo fotografado. São estes registros que, ao ser revisitado, me transporta de volta àquele instante, fazendo-me reviver as sensações e os sentimentos que experimentei. Portanto, o melhor registro que se faz nesta vida não é o da captação digital do vídeo, da foto, é mais do que um ato de capturar imagens, é um exercício de sensibilidade. É permitir-se ser tocado pelo que se vê. É guardar na intimidade não apenas as imagens, mas as experiências e as emoções que elas evocam.