Quando criança por volta dos 9 anos, minha mãe me pedia, ao voltar para a casa após as aulas do período matutino para ir à vendinha próxima ao lar para comprar o leite.
Naquele tempo era possível fazer este pedido aos filhos, a rua era um local seguro, bastava seguir as orientações maternas quanto a atravessar as ruas, zelar pelo troco ou conferir a inserção na carteira de registro para pagamento posterior (a famosa caderneta).
O leite diário vinha engarrafado e com um lacre metálico para proteger ou garantir sua inviolabilidade, tínhamos garantias gerais sobre o produto que ao lar levávamos. No dia seguinte, após o consumo, lavávamos o vasilhame para devolver à vendinha de forma a voltar ao fornecedor (a tal logística reversa). E tomávamos outro vasilhame, com confiança, segurança e responsabilidade. Pagaríamos pelo vasilhame que, porventura, viéssemos a quebrar.
Passados os anos, não mais temos o vasilhame de vidro, foi substituído pelo plástico com a mesma forma ou transformado em caixas, dando o nome de “leite de caixinha” com mais conservantes do que os primeiros para resistirem por mais tempo.
A água que bebíamos vinha do poço que tínhamos em casa, depois pelo fornecimento da empresa de abastecimento municipal e, no presente, em garrafas plásticas que podemos acumular em casa e não mais beber das torneiras em prol da boa saúde.
Essa atitude gerou produtos para o uso em processos de reciclagem, os plásticos. Mas, como não poderia deixar de ser, os humanos inescrupulosos, passaram a recolher estes vasilhames e promover a reutilização para vender água, aquela conquista em torneiras, para clientes de baixa renda ou descuidados. Após essa atitude, passamos a rasgar as garrafas que encaminhamos para a reciclagem, evitando o reuso como continentes.
O mesmo ocorreu com o “álcool” utilizado em combustíveis, a ele adicionamos uma dose de gasolina para evitar o seu consumo por “alcoólatras”.
Hoje, as bebidas fruto de processos de destilação foram adulterados com a presença de substâncias altamente nocivas à saúde, incluindo a adulteração e falsificação de produtos reconhecidos como de alto valor e vendidos a preços que permitem “lucro acima do produto original”.
Então, passamos a um novo nível de cuidado, teremos que quebrar as garrafas dos produtos originais que adquirimos de forma a impedir o seu reuso. Mas, enfrentaremos novo problema, proteger os coletores de lixo domiciliar do risco com ferimentos provocados pelos cacos.
De fato, estamos em cacos no que tange nossa responsabilidade com os outros, e os outros são os mesmos que nós, humanos. Estamos, sempre, buscando novas formas de nos proteger de nós mesmos. Sempre conviveremos com o uso inapropriado dos avanços de nossa espécie. Creio que estabelecemos a logística perversa!! Ações que demonstram, inequivocamente, que somos vítimas de nossa “(in) evolução”!!!