Moisés de Matos, presidente do Conselho da Comunidade Negra de Votuporanga, conversou com o A Cidade sobre a data de hoje
Moisés de Matos, presidente do Conselho da Comunidade Negra (Foto: Arquivo Pessoal)
Daniel Marques
daniel@acidadevotuporanga.com.br
O Dia da Consciência Negra, celebrado no Brasil em 20 de novembro, é um marco fundamental para refletir sobre a história, a cultura e as lutas da população negra no país. A data homenageia Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência à escravidão e líder do maior quilombo da história brasileira, e serve como um lembrete da longa trajetória de luta contra o racismo, a discriminação e a desigualdade. Para o presidente do Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Votuporanga (CMPDCN), Moisés de Matos, os negros ainda têm muitos desafios pela frente.
Em conversa com a reportagem do jornal
A Cidade, Moisés destaca que o Dia da Consciência Negra tem por finalidade trazer à luz o refletir das pessoas que ainda são preconceituosas, que não enxergam seus semelhantes como iguais e que têm uma visão distorcida sobre negros. Ela acrescenta que o racismo faz muitos desconfiarem da capacidade das pessoas negras, e isso exclui oportunidades, acesso à educação, dificulta a ascensão profissional, salários igualitários, entre outras diversas manifestações do racismo estrutural e institucional. “Portanto, precisamos ter este dia de conscientização de uma forma geral, além de lembrarmos do assassinato de Zumbi dos Palmares, que foi um líder que mudou a visão do nosso povo em busca da liberdade”, contou.
O presidente observou que os desafios da comunidade negra são imensos, desde o acesso à educação, saúde, oportunidades melhores nas empresas, cotas, bolsas de estudo, cursos pré-vestibular e melhor valorização dos profissionais negros em todas camadas da sociedade.
Em Votuporanga, o CMPDCN desenvolve trabalhos de conscientização, educação e alerta. “Todos os conselheiros que por aqui passaram trabalharam em busca de mudanças importantes para o nosso povo”, apontou. A atual gestão vem desenvolvendo um curso pré-vestibular para a comunidade carente da cidade; se trata de um curso preparatório para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e vestibulares nas universidades locais ou não. É totalmente gratuito e conta com professores voluntários de grandes escolas da cidade e região. É uma parceria entre Conselho da Comunidade Negra, Prefeitura Municipal, Unifev e IFSP. “Acreditamos ser algo importante e necessário o acesso à educação transformadora, que pode mudar o futuro destes jovens”, frisou.
O Conselho também realiza palestras em escolas e universidades para todos os públicos. A conselheira Maristela Maranho Antonieto promove um importante trabalho na rede de ensino municipal, uma ação antirracismo e inclusão social, em que as crianças trabalham a autoestima para serem totalmente integradas à sociedade.
Consciência humana?
É comum no feriado do Dia da Consciência Negra algumas pessoas falarem que o correto seria o “dia da consciência humana”. Moisés comentou essa questão: “como pode um ser humano ainda ter dentro de si o preconceito racial contra seu próximo? Lembrando que em nosso país temos feriados dos mais variados possíveis. Vivemos uma luta diária para vencermos essa indiferença que a sociedade nos impõe, portanto, é de muito valor essa data, caso contrário o governo não teria decretado este feriado como algo merecido e relevante à população brasileira”.
Na visão do presidente, se realmente houvesse consciência humana, não haveria racismo no mundo. “A nossa sociedade ainda é muito racista e sempre tenta ter uma narrativa distorcida para assuntos relacionados à comunidade negra”, ressaltou.