A Cidade ouviu políticos do noroeste paulista para repercutir o tema que movimentou o país ontem, após nova operação da PF
Lideranças políticas da região comentaram a decisão que colocou tornozeleira eletrônica no ex-presidente Jair Bolsonaro (Foto: Agência Brasil)
Franclin Duarte
franclin@acidadevotuporanga.com.br
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi alvo ontem de uma nova operação da Polícia Federal, por determinação do ministro Alexandre de Moraes do STF (Supremo Tribunal Federal). O ministro determinou busca e apreensão em endereços ligados Bolsonaro, além da aplicação de medidas cautelares, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de acessar redes sociais.
A ação foi o assunto mais comentado no país. De um lado apoiadores do ex-presidente falam em “perseguição”, enquanto governistas comemoraram o que eles chamaram de “grande dia”. Os principais jornais internacionais também repercutiram o caso, como o New York Times, The Washington Post, The Guardian, El País, Wall Street Journal, dentre outros.
No noroeste paulista não foi diferente e o tema reverberou, principalmente entre a classe política. Para comentar a questão, o jornal A Cidade procurou as principais lideranças políticas ligadas a Votuporanga, como é o caso do deputado Carlão Pignatari (PSDB), ex-presidente da Alesp. "Mantenho meu respeito ao eterno presidente Jair Bolsonaro. Sigo acreditando nos valores que ele representa para milhões de brasileiros”, disse o parlamentar.
Danilo Campetti (Republicanos), por sua vez, foi mais enfático na defesa do ex-presidente. O deputado estadual afirmou que é preciso que a Justiça seja respeitada. Mas também é preciso lembrar que a Justiça existe para proteger as liberdades, e não para calar vozes.
“É impossível não se entristecer com o que vimos hoje. Um presidente que dedicou a vida ao Brasil, que foi eleito pelo povo e sempre esteve ao lado das famílias, agora enfrenta medidas duríssimas, como tornozeleira eletrônica e o bloqueio das redes sociais. Até mesmo falar com o próprio filho lhe foi proibido. O presidente Bolsonaro representa milhões de brasileiros. E mais do que um líder, ele é um símbolo de resistência e fé para quem acredita num Brasil melhor. Como representante do povo, estarei ao lado dele, defendendo a verdade e a liberdade. O Brasil não abandona quem sempre lutou por ele”, afirmou.
Já para os “anti-bolsonaristas” a ação da PF por determinação de Alexandre de Moraes representa a defesa da soberania nacional. Foi o que comentou a deputada estadual Beth Sahão (PT), que tem sua base eleitoral na cidade de Catanduva.
“Bolsonaro atentou contra a democracia e tramou contra as vidas do presidente da República, do vice e do então presidente do TSE. Isso está documentado. Além disso, ele e seus filhos são traidores da Pátria, inimigos do Brasil, que se aliaram a Donald Trump para destruir a economia brasileira. A punição exemplar para esse criminoso é o mínimo que se pode esperar. Que os filhos desse golpista inimigo da Pátria também paguem pela traição que estão cometendo contra nossa nação”, comentou a parlamentar.
Na mesma linha de entendimento seguiu o presidente do PT de Votuporanga, Guilherme Beraramo Gasgues, que disse que a intervenção do STF nada mais é do que uma resposta à irresponsabilidade da família Bolsonaro que, segundo ele, está colocando em risco centenas de milhares de empregos no país.
“Foi uma falta de responsabilidade, uma covardia danada arriscar a soberania do nosso país, aceitar ter interferências externas, para tentar livrar ele [Bolsonaro] da cadeia que é o lugar que ele tem que estar por tudo que ele fez. É uma baita de uma sacanagem você colocar em risco milhões de empregos para salvar a própria pele e querer causar um tumulto dentro do nosso país”, comentou o petista.
O jornal A Cidade também procurou os deputados federais Fausto Pinato (PP) e Luiz Carlos Motta (PL). A assessoria de Pinato justificou a ausência de manifestação em razão de sua viagem para o exterior. Motta, por sua vez, não respondeu aos questionamentos.
O que motivou a ação contra Bolsonaro?
Em decisão divulgada pelo Supremo Tribunal Federal, o ministro Alexandre de Moraes escreveu que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo fizeram uma “confissão flagrante” de atos criminosos para coagir e obstruir a Justiça brasileira, motivo pelo qual decidiu impor medidas cautelares contra Bolsonaro.
Eles são investigados pelos crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Em outro trecho da decisão, Moraes ainda menciona o crime de atentado à soberania.
Pela decisão, Bolsonaro deverá cumprir recolhimento domiciliar entre 19h e 6h de segunda a sexta-feira e em tempo integral nos fins de semana e feriados; ser monitorado com tornozeleira eletrônica; não manter contato com embaixadores, autoridades estrangeiras e nem se aproximar de sedes de embaixadas e consulados.
As medidas foram solicitadas pela Polícia Federal, com parecer favorável da Procuradoria-Geral da República. Os órgãos apontaram o risco de fuga do ex-presidente para justificar a instalação de uma tornozeleira eletrônica.
Para o ministro, as condutas de Bolsonaro e filho caracterizam “claros e expressos atos executórios e flagrantes confissões da prática dos atos criminosos, em especial dos crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa e atentado à soberania”.
O ministro salientou que a “ousadia criminosa parece não ter limites”, ocorrendo à luz do dia, em publicações em redes sociais e entrevistas e pronunciamentos a veículos de mídia.