Em março a reportagem do A Cidade já havia noticiado que a chegada das franquias poderia mudar o cenário do setor
As academias de rede operam com vantagens claras: estruturas modernas, ambientes climatizados e treinos sistematizados (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
Daniel Marques
daniel@acidadevotuporanga.com.br
Confirmando o que a reportagem do jornal
A Cidade já havia noticiado em março deste ano, a chegada de pelo menos duas grandes franquias do ramo fitness – conhecidas popularmente como “academias de rede” – em Votuporanga, tem provocado transformações profundas no setor local de academias.
O impacto dessas gigantes foi sentido especialmente na região central da cidade, onde ao menos três academias de menor porte encerraram definitivamente suas atividades nos últimos meses. A movimentação reforça a tendência de concentração do mercado, em que estruturas com forte capital de investimento e apelo nacional acabam por sufocar a concorrência local menos equipada para competir em igualdades de condições.
Na ocasião, o
A Cidade conversou com o professor Valter Brighetti, coordenador do curso de Educação Física da Unifev. Docente nas graduações de Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia e Nutrição da instituição, Brighetti é graduado em Educação Física pela Unesp de Rio Claro e mestre em atividade física adaptada pela Unicamp. Já em março, o especialista alertava para os possíveis desdobramentos da chegada das redes à cidade. Questionado se as grandes franquias poderiam, de fato, levar ao fechamento das academias menores, Brighetti foi categórico: “Sim, porque é difícil de competir se não existir um diferencial nas mesmas, como climatização, atendimento e valores”.
Na mesma conversa, também foi perguntado se havia espaço para todos os perfis de academias conviverem no mesmo ambiente de mercado. Valter explicou que algumas academias, especialmente as localizadas em bairros mais afastados das redes, poderiam manter-se operando com relativa estabilidade. “A dificuldade será com as que estão no entorno das franquias”, disse ele, prevendo com precisão o que já se confirma agora.
As academias de rede operam com vantagens claras: estruturas modernas, ambientes climatizados, treinos sistematizados e muitas vezes pensados para oferecer certa autonomia ao aluno. Entre os atrativos apontados por Brighetti estão ainda a padronização de serviços em todas as unidades, a possibilidade de o aluno utilizar qualquer unidade da rede em outra cidade e, principalmente, o alto padrão dos equipamentos, que contribui diretamente para a eficiência do tempo de treino. Em resumo, elas oferecem um produto padronizado, escalável e altamente competitivo.
Em contrapartida, as academias de menor porte tentam sobreviver apostando em aspectos mais subjetivos e personalizados, como o atendimento acolhedor, a sensação de comunidade e a construção de vínculos mais próximos entre profissionais e alunos. São características valiosas, mas que, como a realidade tem demonstrado, nem sempre são suficientes para manter o negócio funcionando em meio à pressão das redes. A concorrência acirrada na região central de Votuporanga acabou tornando insustentável a permanência de algumas dessas unidades independentes, que, sem fôlego financeiro, foram forçadas a fechar suas portas.
A situação mostra um momento de transição no setor fitness da cidade. Se, por um lado, a população ganha em variedade de serviços e acesso a estruturas de ponta, por outro, o ecossistema de academias locais perde parte de sua diversidade e da proximidade que essas instituições menores sempre ofereceram. A chegada das grandes redes, portanto, representa uma mudança de cenário econômico, mas também cultural, em que o modelo de treino padronizado e escalável começa a suplantar a tradicional academia de bairro – aquela que muitos moradores frequentavam há anos e onde, muitas vezes, todos se conheciam pelo nome. A tendência é que o setor continue em transformação, e a sobrevivência das academias locais dependerá, cada vez mais, da sua capacidade de se reinventar, oferecendo diferenciais concretos que possam competir, de alguma forma, com a força das franquias que chegaram para ficar.