Leitores do A Cidade e ouvintes da Cidade FM se disseram incomodados, principalmente por estarem acompanhados de crianças
O Fliv deste ano se tornou alvo de reclamações por conta do uso de linguagem neutra, como “todes” na abertura de apresentações (Foto: Prefeitura de Votuporanga)
Franclin Duarte
franclin@acidadevotuporanga.com.br
Leitores do A Cidade e ouvintes da rádio Cidade FM entraram em contato com a redação relatando desconforto com o uso frequente de linguagem neutra durante as atrações e atividades da 15ª edição do Fliv (Festival Literário de Votuporanga). Segundo os relatos, em diversas apresentações, o cerimonial iniciou as saudações com a frase “boa noite para todas, todos e todes”.
A expressão “todes” não integra as normas oficiais da língua portuguesa, mas vem sendo utilizada como pronome neutro para se referir a pessoas não binárias, aquelas que não se identificam exclusivamente com os gêneros masculino ou feminino. O termo é incentivado pelo público LGBTQIA+ como forma de inclusão.
O problema, segundo as queixas, é que as saudações neutras estariam sendo utilizadas em aberturas de atrações direcionadas a todas as idades, inclusive para adolescentes e crianças, o que levantou discussões sobre pautas ideológicas, principalmente em meio ao atual clima de tensão entre direita e esquerda no país. Votuporanga, conforme o resultado das últimas eleições nacionais, tem uma população mais conservadora (cerca de 69% do eleitorado).
Além do “todes”, também foram relatadas variações como “bem-vindes”, “querides”, “professores” e “alunes”. Algumas famílias, alegando desconforto, optaram por se retirar de determinadas apresentações e o assunto já foi parar nos corredores da Câmara Municipal de Votuporanga, durante a sessão ordinária de anteontem.
“Eu estava com meu filho de 8 anos e não achei apropriado para o momento. A gente vai a um evento cultural para prestigiar livros, música e arte, e não para entrar em debate político ou ideológico”, reclamou uma mãe, que preferiu não se identificar.
Outro participante, ouvinte da Cidade FM, disse ter se surpreendido com a abordagem. “Achei desnecessário. A gente não vê isso no dia a dia, e de repente começa a ouvir várias palavras que nem fazem parte da língua portuguesa. Isso tira a atenção do que realmente importa no evento”, comentou.
As falas, conforme apurado pela reportagem, não constavam no material oficial de divulgação e teriam sido inseridas por apresentadores e artistas, por conta própria.