Um dos jogadores que há mais tempo veste a camiseta alvinegra conta sua origem na favela mais famosa do Rio de Janeiro
Jociano Garofolo
garofolo@acidadevotuporanga.com.br
No elenco da Votuporanguense desde o início do Clube, em 2010, o volante Evison Rocha, o "Carioca", ao lado do zagueiro Elsinho, é o jogador que há mais tempo vive em Votuporanga e têm experiência de jogar futebol nesta terra. O atleta vive hoje uma rotina muito diferente daquela de seu local de origem. Carioca foi criado em uma comunidade do Complexo do Alemão, o maior conjunto de favelas da cidade do Rio de Janeiro, que passou por um processo de pacificação contra o tráfico de drogas e que ganhou destaque na mídia, sendo atualmente mostrado em uma telenovela em horário nobre.
O Complexo do Alemão é um conjunto de treze favelas da Zona Norte do Rio de Janeiro. Durante muitos anos, sua área foi considerada uma das mais violentas da cidade, porém desde 2010, o governo interveio com esforços pacificadores (UPPs) que têm conquistado resultados positivos ao conjunto. Carioca nasceu na cidade do Rio de Janeiro e sempre morou na capital fluminense. "Comecei jogando bola no Campo do Ordem, daí um amigo (primo) chamado Valdson, me indicou para fazer um teste no São Cristóvão Clube e Regatas (clube que revelou o Fenômeno Ronaldo) no começo de 2005. Foi onde tudo começou".
Sobre morar no Complexo do Alemão, Carioca destaca que o local é repleto de pessoas simples, onde existem problemas, mas por outro lado, muitas coisas boas a serem exaltadas. "Conviver no complexo é conhecer a realidade de pessoas puras, humildes, sinceras. Tem seu lado bom e ruim. Amadurecemos no convívio. Tenho amigos que escolheram caminhos estreitos e outros que almejam futuros brilhantes, Penso que é bom para amadurecer, saber o que é certo e o que é errado. Mas nem por isso deixamos de andar descalço, ir a um pagode, baile funk. Sempre é bom né (risos). Ainda mais agora que nossa comunidade virou um cenário de novela. É muito bom ver esse reconhecimento e saber que dentro de uma comunidade têm pessoas boas", destacou o jogador de futebol.
Alvinegra
No terceiro ano no CAV, o jogador, apesar de jovem, 22 anos, é um "veterano" entre os companheiros. Ele acompanhou de perto a decepcionante campanha de 2010, quando o time foi eliminado na segunda fase, a emocionante saga de 2011, quando o CAV chegou à última fase com chances de conquistar o acesso e a excelente trajetória de 2012, quando a Alvinegra subiu para a A3 e conquistou o título de campeã da Segundona. Para o atleta, tímido e querido pelos companheiros, o sentimento é de felicidade.
"Vestir a camisa da Votuporanguense pra mim hoje é a maior alegria que tenho. Foi a primeira equipe na minha vida profissional e a primeira que está me dando visibilidade. Eu vim jogar na Votuporanguense em meados de 2010, graças a meu irmão Ives, ex-Vasco, hoje no Bangu Futebol Clube. Ele conheceu o treinador Luciano Gusso, em um shopping no Paraná, e me indicou ao professor, o qual me deu oportunidade e chance de vestir essa camisa. Quando estou com o uniforme do CAV, todos os torcedores conhecem minhas características e sabem que vou entrar com vontade em campo", disse o jogador, que é lembrado pela forte aplicação na marcação. Vindo de uma capital estadual, Evison trata Votuporanga como sua segunda casa e diz que já está acostumado com a vida em uma cidade do interior. "Meu sentimento com a cidade é de muito carinho. Temos uma torcida fanática, que apoia aonde for necessário".
Tráfico
Evison conta que estava em casa quando a polícia do Rio invadiu o complexo do Alemão em 2010 e colocou para correr os criminosos. Para o jogador, os momentos de pânico com a invasão das forças pacificadoras do exército e da polícia são uma memória desagradável, mas que serviram para mostrar a força do povo que mora na comunidade. "Eu acompanhei bem de perto, aliás, estava de férias naquele ano, já que nosso time havia saído do campeonato na segunda fase. Foi meio complicado saber que ali naquele local tinha muita gente, crianças inocentes no meio daquilo tudo. Tenho amigos, familiares que estavam naquela correria toda. É difícil, Mas a minha comunidade sempre foi e vai ser feliz. Não importa a circunstancia. Estamos sempre lutando pelos nossos direitos. Isso sempre nos faz muito forte. Sempre".