A lua cheia ilumina o céu da Romênia. Uma região é sinônimo de mistério: a Transilvânia. É a terra de Vlad III, um sanguinário monarca do século XV que teria inspirado a criação de um dos personagens mais assustadores de todos os tempos: o Conde Drácula.
É onde fica também o Castelo de Bran, que bate direitinho com a descrição do refúgio do vampiro na famosa história de terror. Mas quem foi o príncipe Vlad? E por que a Romênia é tão associada a vampiros?
A cidade de Sighisoara é uma joia medieval no coração da Transilvânia. Entre as torres da cidadela, a que mais chama a atenção é a do relógio. Sighisoara é tão bem preservada que é considerada Patrimônio Mundial pela Unesco.
Entre as muitas construções antigas da cidade, uma casa em especial faz com que o turista de uma paradinha. É a casa onde nasceu Vlad Tepes e onde ele viveu até os cinco anos de idade, depois a família se mudou para uma outra cidade. Lá também eles fazem essa associação entre o Vlad Tepes e o Conde Drácula como forma de atrair os turistas. Na casa, funciona um restaurante medieval. Mas está aberto à visitação o quarto onde nasceu o Vlad Tepes.
Quem entra vê todo um ambiente preparado e uma brincadeirinha para assustar o turista, mas é só para dar um clima assim mais engraçado. Também dá para ver o quarto onde o Vlad Tepes nasceu. Do quarto original do príncipe, não sobrou muita coisa. Mas, nas pinturas, dá para ver que a forma como ele executava os inimigos faz jus à fama de sanguinário: o empalamento.
Castelo de Poenari foi construído por Vlad Tepes como uma fortaleza
O destino agora é a Valáquia, a província vizinha, onde Vlad Tepes foi rei três vezes. Ele construiu uma fortaleza no alto de uma montanha. É um local estratégico, de acesso difícil. Depois de uma subida há 1.480 degraus para chegar até o Castelo de Poenari. A trilha segue em ziguezague pela floresta. Mesmo subindo sem pressa, é preciso ter preparo físico. No meio da caminhada tem um banquinho para sentar e placas dizem quantos degraus faltam.
No alto da escada, o Globo Repórter encontra Maria, uma guia formada em História. Diz a lenda que Poenari foi erguida pela elite que tinha ordenado a morte do pai e do irmão de Vlad. O príncipe se vingou, anos mais tarde, executando os mais velhos e obrigando os jovens a trabalhar dia e noite na construção.
“Para nós, na verdade, Vlad Tepes foi um herói que lutou pela independência da Valáquia. O nome dele, Vlad Drácula, ajudou a causar confusão porque “Drácula”, em romeno, pode ser entendido como “filho da ordem do dragão” - que foi criada pelo pai dele, mas também como ‘filho do mal’”, explica a guia Maria Nicola.
Maria diz como é, para os romenos, ter um herói nacional associado a um vampiro.
“Para nós, não é muito bom, mas, por outro lado, traz turistas. E é engraçado porque muitos vêm até a fortaleza com crucifixos nas mãos para ver se o espírito do Conde não está por aqui”, conta Maria.
Sabina Ispas é diretora do Instituto de Etnografia e Folclore de Bucareste e estuda tradições romenas há pelo menos 30 anos.
“Na nossa cultura, o Drácula não existe. Ele é um personagem de ficção que apareceu depois da publicação do romance Drácula, como em qualquer outra parte do mundo”, explica a pesquisadora Sabina Ispas.
Crença dos strigois é a que mais se aproxima do mito do Drácula
Nas vilas da Romênia, a crença que mais se aproxima a do mito do Drácula é a dos strigois, pessoas nascidas de pais pecadores que, depois de mortas, voltavam para assombrar a família. O Globo Repórter perguntou para Sabina se ela acredita na existência dessas criaturas. E a resposta é tão enigmática quanto a cultura da Romênia.
“Eu estudei tantas histórias sobre os strigois que não posso acreditar neles. Mas ninguém pode estar seguro de que alguma coisa não existe só porque não acredita nela”, diz Sabina Ispas.
À luz do sol, o Castelo de Bran é construção que não tem nada de assustadora. O palacete tem mais de 600 anos. Nasceu como uma fortaleza militar; foi posto de coleta de impostos; casa de reis e rainhas; museu na época do comunismo. Hoje, de volta aos herdeiros da família real, está aberto aos turistas, que fazem fila para conhecer o famoso castelo do Drácula.
A portuguesa Nilce esperava ver mais referências do vampiro.
“Não, o Drácula não tem, mas é mais bonito do que pensei”, conta a turista Nilce Cardoso.
Alexandra, que trabalha no castelo como guia, diz que até mesmo os romenos vão até Bran atraídos pelo mito do vampiro.
“Se você estiver procurando pelo castelo do Vlad, este não é o lugar. Ele só ficou aqui alguns dias, como prisioneiro. Agora, se o que você quer ver é o castelo do vampiro da ficção, então, você está no lugar certo”, diz a guia Alexandra Cojanu.
O Castelo de Bran é um dos pontos turísticos mais visitados do país. Recebe mais de meio milhão de visitantes por ano. Um castelo tão cheio de histórias também tem os seus mistérios. E uma passagem secreta que existe desde que o castelo foi construído, na Idade Média. Essa passagem era por dentro de uma lareira e foi descoberta em 1926, quando o castelo passou por uma grande reforma. E para onde será que as escadas levam?
Para um corredor estreitinho, todo de pedra. Mas em caso de perigo essa passagem secreta era usada. E quem iria desconfiar que a rota de fuga seria por dentro de uma lareira? A passagem termina em um grande salão e facilitava o acesso dos soldados aos andares mais altos em caso de ataque. Na época da realeza, era sala de música.
Com 57 cômodos distribuídos em quatro andares o Castelo de Bran é um dos imóveis mais caros do mundo. Está avaliado em quase R$ 400 milhões, mas não está à venda. Aos interessados em uma nova proposta, Alessandra faz um alerta:
“A gente já precisou ficar aqui de noite e a gente acredita que ouviu alguns barulhos estranhos, alguns passos. Talvez o mundo não seja só o que a gente vê, talvez seja mais”, afirma Alessandra.