Médica infectologista explica que ‘soroconversão’, que é a proteção completa contra a forma grave da doença, leva em média 14 dias
Lucia e Izabel morreram em razão de complicações da Covid-19 mesmo após terem sido imunizadas (Fotos: Arquivo pessoal)
Franclin Duarte
franclin@acidadevotuporanga.com.br
A morte de uma idosa e sua cuidadora por complicações causadas pela Covid-19, mesmo depois de ambas já terem recebido as duas doses da vacina contra a doença, em Votuporanga, reforça a necessidade de se manter os cuidados mesmo após a imunização. Lucia Scaraficci de Oliveira, de 93 anos, e sua cuidadora, Izabel Cristina Dametto, de 60 anos, foram internadas dias depois de terem tomado a segunda dose da CoronaVac, vacina produzida pelo Instituto Butantan, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.
A primeira a apresentar sintomas foi Lucia. Segundo seu neto, Maurício Scaraficci, os sintomas começaram a aparecer logo após ela receber a segunda dose da vacina, no dia 5 de março, assim como em seu pai, que mora com ela, e em Izabel, que era sua cuidadora.
“Na primeira dose ela não teve reação, mas meu pai e a cuidadora dela tiveram. Inclusive a cuidadora dela, a Izabel, que era uma pessoa querida demais, era uma mãezona para a gente, teve uma reação muito forte na primeira dose e nem era para tomar a segunda, mas decidiu tomar e faleceu. É uma pena, mas até o momento a vacina não está sendo aquela salvação que todo mundo espera. Meu pai tomou a segunda e a reação foi muito forte, inclusive tivemos que levar ele no hospital e o exame dele foi atestado Covid também”, disse Maurício em entrevista exclusiva ao
A Cidade.
A mesma situação foi relatada pela irmã de Izabel, Célia Dametto. Segundo ela, o diagnóstico positivo de sua irmã foi dado no dia 9 de março, quatro dias depois dela ter tomado a segunda dose do imunizante.
“Na primeira dose ela teve reação bem forte logo no dia seguinte, aí ela passou várias vezes pelo postinho, foi para a UPA. Depois disso, no dia 5, ela tomou a segunda dose e no dia 9 ela passou mal e foi para UPA, aí medicaram, deram alta, e no outro dia de manhã ela passou mal novamente e a ambulância buscou ela. De lá já foi sedada, entubada e não resistiu”, contou.
Dona Lucia era moradora da Vila Marim, na rua Tibagi, faleceu no dia 18 de março, e deixa os filhos Antonio Carlos de Oliveira, Luiz Celso de Oliveira e Paulo Roberto Barbosa de Oliveira. Já Izabel faleceu no dia 10 de março. Ela morava no bairro Monte Verde e deixa os filhos Antonio Carlos Guimarães e Simone Guimarães de Oliveira.
Ambas já constam na lista de vacinados divulgada pela Prefeitura, com as duas doses, bem como os cartões de vacinação comprovam a imunização “completa”.
Imunização
De acordo com a infectologista da Santa Casa de Votuporanga, Talitha Tonini de Oliveira, a soroconversão (imunização completa) se dá por volta de 14 dias depois da aplicação da segunda dose e nesse intervalo as pessoas ainda estão suscetíveis à doença.
“Quando a gente toma uma vacina, temos um tempo para sermos imunizados por ela. Algumas pessoas serão imunizadas com uma soroconversão completa e eficaz, outras menos eficaz, mas geralmente demora por volta de uns 14 dias. Pode acontecer de alguém pegar Covid-19 nesse período que ainda não soroconverteu. Eu, particularmente, ainda não soube de nenhum óbito de alguém que tenha tomado a vacina e esteja num período totalmente soroconvertido, o que a gente tem são relatos de pessoas que pegaram depois da vacina, mas que evoluíram com casos leves, que é realmente o objetivo dela [vacina], proteger as pessoas dos casos graves. Ela [vacina] funciona como se fosse a vacina da gripe, não é que a gente nunca mais vai ter gripe, a gente não vai ter a forma grave da gripe”, explicou a infectologista.
Butantan
Procurado pelo
A Cidade, o Instituto Butantan se manifestou afirmando que a eficácia e a segurança da vacina adsorvida Covid-19 (inativada) já foram comprovadas por meio de testes clínicos de fase 3 realizados com 12,5 mil voluntários em 16 centros de pesquisa brasileiros.
“A vacina recebeu da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o registro de uso emergencial em 17 de janeiro. A vacina é indicada para prevenir casos de Covid-19, doença causada pelo SARS-CoV-2 em indivíduos com 18 anos ou mais que sejam suscetíveis ao vírus. A vacinação com o imunizante reduz o risco de uma pessoa ter a doença causada pelo vírus SARS-CoV-2. Necessita-se de algumas semanas para que seja obtida uma resposta imune (proteção) adequada após as duas doses, aplicadas com intervalo de tempo de 14 a 28 dias. Algumas pessoas podem ainda ter a doença ou a infecção mesmo tendo sido vacinadas. A vacina adsorvida contém o vírus SARS-CoV-2 morto, sendo capaz de produzir ampla resposta imune, mas sem causar a doença. Todo óbito deve ser objeto de minuciosa investigação epidemiológica, a cargo das vigilâncias municipais. É importante que a população siga se vacinando, conforme a disponibilidade do imunizante na rede pública e os esquemas vacinais adotados pelos gestores de saúde”, disse em nota.
Prefeitura
A prefeitura de Votuporanga, por sua vez, informou que a Secretaria Municipal da Saúde investiga todos os óbitos ocorridos e os dois citados pela reportagem estão em investigação.