Pessoas infectadas pelo vírus quando poderiam ser vacinadas tiveram que esperar a ‘janela de infecção’ e agora não encontram doses
Empresário Ivan Carmona e a auxiliar de escritório Bruna Dutra falaram sobre a indignação e revolta com a falta de doses (Fotos: Arquivo pessoal e Prefeitura de Votuporanga)
Pedro Spadoni
pedro@acidadevotuporanga.com.br
Muitos aguardaram ansiosamente para o seu dia de receber a dose da vacina contra a Covid no braço. Só que alguns votuporanguenses deram o azar de serem infectados pelo coronavírus justo quando a campanha de vacinação chegou à sua faixa etária.
A orientação da Secretaria Municipal da Saúde, neste caso, é que a pessoa espere 30 dias para, então, ser vacinada. Só que quando esses votuporanguenses voltaram aos postos, as doses (para as suas idades) tinham acabado. E eles seguem, até hoje, sem nenhuma dose da vacina no braço.
O jornal
A Cidade conversou com o empresário Ivan Carmona Nogueira, de 27 anos, e a auxiliar de escritório Bruna Bonato Dutra, de 25 anos, que se enquadram nessa situação. Ambos foram às redes sociais ontem para falarem sobre a indignação e revolta com a falta de doses.
Casos
O empresário foi diagnosticado com Covid no dia 28 de julho. Exatamente sete dias depois, ele poderia ser vacinado contra a doença, mas já cumpria a “janela” de 30 dias para receber a dose do imunizante. Depois desse período, a campanha de vacinação já tinha englobado outras faixas etárias. E Ivan foi colocado numa fila de espera, na qual está até hoje.
“Eu fui quatro vezes nos postos [volantes de vacinação]. Liguei na Secretaria da Saúde e tudo mais. A resposta sempre é a mesma: a culpa é do governo do estado, que falou que tem que mandar um lote de vacina só para quem ‘perdeu o prazo’ e não tomou a primeira dose”, contou o empresário.
Outro agravante, no caso de Ivan, é que uma das sequelas deixadas pela Covid foi a volta da sua bronquite asmática, da qual ele já tinha sarado antes de contrair o vírus. Mesmo tendo essa comorbidade, ele não pôde receber a vacina nos postos. “A resposta que eu tive da atendente [do posto de vacinação] foi que cada um teve seus problemas e todo mundo tem que aguardar. Não foi culpa minha e eu quero tomar a vacina, seja de qual fabricante for”, disse.
A situação da auxiliar de escritório, Bruna Dutra, é parecida com a de Ivan. “Quando a campanha chegou na minha idade, eu já estava com Covid. Aí a orientação da Secretaria da Saúde foi esperar 30 dias. No dia 26 de agosto, eu fui no posto de vacinação, deixei meu nome lá e estou até agora esperando”, contou ela.
No seu caso, essa situação já começa a afetar sua vida pessoal. Isso porque a auxiliar está com uma viagem marcada, mas considera desmarcá-la por conta das incertezas. “Eu tenho uma viagem marcada para 1º de outubro. Se eu não tiver nem a primeira dose, não sei o que eu vou fazer. Preciso saber se eu vou ter ou não, para poder desmarcar ou remarcar”, disse.
Ela também contou que está preocupada com a saúde, por não ter a proteção oferecida pelas vacinas, e considera até tomar medidas mais drásticas para lidar com a situação. “Minha mãe falou para a gente abrir um boletim de ocorrência, porque a gente não sabe o que pode acontecer. Eu não fiz ainda, pensando na dor de cabeça que poderia me dar no futuro. Então estou fazendo de tudo primeiro e deixando essa como a última opção”, disse.
A Secretaria Municipal da Saúde informou que não possui um número exato sobre quantas pessoas de 18 anos para cima “perderam o prazo” da primeira dose. A Pasta informou, porém, que está realizando uma revisão detalhada dos nomes que aguardam essas doses para conferência e comprovação de residência em Votuporanga.
Outro lado
Sobre a aplicação de primeira dose para população acima de 18 anos, a Prefeitura informou, em nota, que a Secretaria Estadual da Saúde enviou 100% das doses para esse público com base na estimativa do IBGE. “Desta forma, adultos acima de 18 anos que não tomaram a vacina no prazo anunciado para cada faixa etária devem procurar um dos cinco postos de vacina para deixar os dados e integrar uma lista de espera”, explicou a Administração.
Além disso, a Prefeitura informou que o município já solicitou doses adicionais ao Estado e aguarda o posicionamento da Secretaria Estadual da Saúde sobre o envio dessas novas doses.
A secretaria estadual, por sua vez, informou a reportagem que o município tem um “saldo” de 1,6 mil doses de vacinas e, desde a semana passada, recebeu mais de cinco mil doses. Ainda segundo a Pasta, o município deve receber, até esta semana, outras duas mil doses para aplicação nos públicos vigentes.
“O Estado envia doses suficientes em quantidade idêntica para aplicação de primeira e segunda dose nos públicos-alvos e em tempo oportuno para a vacinação, de acordo com o cronograma estabelecido no PEI [Programa Estadual de Imunização] e conforme recebe novas remessas do Ministério da Saúde. É dever dos municípios organizar a demanda local e programar eventuais calendários próprios considerando este cronograma estadual, que baliza a distribuição e logística das doses para todas as 645 cidades de SP”, explicou a Pasta, em nota.