Procedimento custa em média R$ 25 mil e é oferecido pelo SUS; no HB de Rio Preto, referência na região, 250 por mês procuram cirurgia
Paulo Assunção, mais conhecido como Juruna, tem 44 anos e espera há 12 anos para fazer a cirurgia bariátrica
Aline Ruiz
aline@acidadevotuporanga.com.br
Aproximadamente 80 mil moradores da região noroeste paulista tem obesidade mórbida. O Hospital de Base de Rio Preto, por ser referência nesse tipo de cirurgia por meio do SUS, não consegue fazer as cirurgias bariátricas de todos e a fila de espera só aumenta. Tem paciente que aguarda por uma nova possibilidade de vida há mais de dois anos, outros, devido a complicações com a saúde, esperam há 12 anos um sinal positivo para dar início ao procedimento.
O votuporanguense Paulo Assunção, mais conhecido como Juruna, tem 44 anos e espera há 12 anos para fazer a cirurgia bariátrica. O drama para conseguir perder peso e poder realizar as tarefas mais simples do dia a dia começou em 2004, quando os médicos diagnosticaram que ele sofre de obesidade mórbida. Nessa época, Juruna pesava 130 quilos, hoje, ele está com 178.
A solução para esse problema, segundo os médicos, seria a cirurgia de redução do estômago. O procedimento custa em média R$ 25 mil. Desempregado, ele diz que não tem condições de pagar pela cirurgia, por isso, procurou o HB de Rio Preto, que oferece o serviço de graça. Mas ele não é o único que precisa do procedimento público e, se quiser operar, vai ter que esperar. “Não posso trabalhar, não consigo andar direito, minha vida está muito complicada, há anos que espero para fazer a cirurgia e até agora nada”, desabafou Juruna.
Outro caso é o de Leandra Cristina Cevada, também moradora de Votuporanga. Ela pesava 120 quilos e, após tentar um encaminhamento para fazer a cirurgia no HB de Rio Preto, preferiu começar a pagar um convênio para mudar de vida. “Eu já estava com sobrepeso e passava muito mal. Comecei a ter pressão alta, diabetes, por isso que eu resolvi começar a pagar um plano e eles cobriram toda a cirurgia, não tinha como esperar”, contou Leandra, que hoje, após um ano e três meses de cirurgia, continua se recuperando e tentando manter o peso de 70 quilos.
Situação semelhante é a da jovem Loren Rossi, que foi diagnostica com hipertensão com apenas 14 anos. Na época, ela pesava 135 quilos e a partir daí começou a consultar médicos para fazer a cirurgia. “Esperei fazer 16 anos e já marquei a cirurgia, meu plano não cobria na época, então tive que fazer particular; não é barato, tanto que minha mãe terminou de pagar no ano passado, mas sofri durante muito tempo, não tinha como esperar mais”, contou Loren, que hoje tem 21 anos e está pesando 94 quilos.
A demora do SUS
Na região, o Hospital de Base de Rio Preto é referência nesse tipo de cirurgia por meio do SUS. Por mês, cerca de 250 pacientes vão ao local em busca do procedimento. Mas por causa da grande demanda, o tempo na fila de espera é de dois anos e, aproximadamente, um ano e meio da primeira consulta até a cirurgia.
Um dos responsáveis pelo serviço, Thiago Siviere, afirma que hoje, mais de 1.000 pessoas aguardam para serem operadas. “Uma demanda que extrapola muito a capacidade de produzir cirurgias. Estimamos que na região, 80 mil pacientes obesos mórbidos com indicação de cirurgia procuram o serviço do SUS”, conta o médico.
Enquanto o dia da cirurgia não chega, outras 200 se preparam para a mudança de vida, participando de reuniões com uma equipe de profissionais, entre eles, psicólogos. Ainda segundo o médico, a partir do início deste ano a fila de espera poderá ficar ainda maior por conta da resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), que ampliou o leque de pessoas que podem passar pelo procedimento.
A cirurgia continua sendo indicada para pessoas com índice de massa corpórea (IMC) acima de 40 e para os que possuem IMC entre 35 e 39. A diferença é que o texto antigo só permitia a indicação de pacientes com IMC entre 35 e 39 se a obesidade estivesse associada a seis tipos de doença. Agora, a nova redação incluiu 21 doenças, entre elas depressão e impotência sexual.
O Hospital de Base realiza em média 10 cirurgias de redução do estômago por mês. Só no ano passado, foram 140 procedimentos. “Cerca de 30% da população sofre com a obesidade mórbida, por isso a demanda é tão grande, bariátrica é a cirurgia que mais acontece em todo o Brasil, porém os recursos disponibilizados pelo governo são baixos, por isso que a demora é tão grande, se tivéssemos mais recursos, com certeza operaríamos mais pessoas”, finalizou o médico Thiago.