A alta dos preços para esse grupo beirou os 20% em outubro no acumulado de 12 meses, segundo levantamento do Ibre/FGV
Essa alta provocou uma enxurrada de reclamações de motoristas de aplicativo; o votuporanguense Everton da Silva é um deles (Fotos: A Cidade)
Pedro Spadoni
pedro@acidadevotuporanga.com.br
Os motoristas enfrentam a maior inflação desde os anos 2000. A inflação para este grupo disparou e já chega a 18,46% no acumulado em 12 meses até outubro. Os “vilões” são a gasolina, o GNV (Gás Natural Veicular) e o etanol, que estão em alta. É o que mostra um levantamento realizado pelo Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas).
Essa alta provocou uma enxurrada de reclamações de motoristas de aplicativo, que viram a renda do seu trabalho diminuir. Tanto que as principais empresas do setor até anunciaram um aumento no repasse no valor da corrida para os trabalhadores.
Reclamações
Entre esses motoristas que se veem prejudicados pela inflação está o votuporanguense Everton de Souza da Silva. Em entrevista ao jornal
A Cidade, Everton contou que sente os aumentos dos combustíveis “na alma”.
“Fica cada vez mais difícil. Porque os combustíveis e outros custos sobem, enquanto a taxa do nosso serviço só abaixa. Parece que só o nosso serviço que não é valorizado, então fica difícil trabalhar”, disse o motorista.
Ele também contou que mesmo com as altas consecutivas da gasolina e a “MP do etanol”, que visava diminuir o preço do combustível, continua abastecendo seu carro com gasolina. Segundo ele, o etanol ainda não compensa.
“O etanol, além do preço estar mais alto, parece, para mim, que a qualidade está piorando. Então eu prefiro abastecer com gasolina porque é mais difícil de dar problema e rende mais”, disse Everton.
Por conta das altas consecutivas dos combustíveis, os motoristas de aplicativo têm cancelado corridas com mais frequência. E Votuporanga não ficou de fora dessa tendência.
“Está puxado. A gente está cancelando muita corrida. Agora mesmo acabei de rejeitar uma. Preferi ficar aqui, conversando, do que ir lá. A pessoa está lá esperando. Provavelmente vai aparecer um carro mais próximo. E Votuporanga é pequena. Em São Paulo, muitos Ubers têm cancelado corridas. Aqui em Votuporanga acontece isso também”, contou o motorista.
Levantamento
Para calcular a 'inflação do motorista', o Ibre levou em conta uma série de itens, além da variação do combustível. No cálculo, estão preço do automóvel novo e usado, gasto com peças e acessórios, seguro, entre outros.
Comparando os índices que medem a inflação para o consumidor fica notável como a alta dos preços tem sido mais expressivas para os motoristas. Por exemplo: o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE, acumulou uma alta de 10,25% até setembro. Já o IPC (Índice de Preço ao Consumidor), apurado pela FGV, subiu 9,57% entre outubro do ano passado e deste ano.
“A gasolina e o GNV têm sido prejudicados pelo barril de petróleo, que tem subido de preço por causa da política da Opep, de reduzir a produção. E há o impacto do câmbio porque a Petrobras reajusta os seus preços com base nessas duas variáveis”, explicou o pesquisador do Ibre e autor do levantamento, Matheus Peçanha, ao g1.
Já o preço do etanol acumula uma alta expressiva por causa da crise climática, que prejudicou a produção de cana de açúcar.