Fliv reconhece importância do músico votuporanguense, que recentemente lançou um CD
Leidiane Sabino
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Eugênio da Silva, o Tesourinha, foi o homenageado da noite de segunda-feira, dia 4 de agosto, no Fliv (Festival Literário de Votuporanga). O músico, queridíssimo na cidade, teve seu talento reconhecido em evento que aconteceu às 21h, na Concha Acústica. Ele fez duas apresentações solo e, depois, juntou-se à Corporação Musical Zequinha de Abreu, da qual faz parte, para um belíssimo espetáculo. Coube à secretária de Cultura e Turismo, Silvia Brandão Cuenca Stipp, a entrega de um certificado de reconhecimento ao seu trabalho.
Tesourinha, integrante da Corporação Musical Zequinha de Abreu, vem colhendo homenagens nos últimos tempos em vista do lançamento do seu CD – 60 anos de carreira. Nesse trabalho de gravação, o primeiro da sua carreira artística, ele executa no sax grandes sucessos da música internacional e brasileira. “Foram canções das mais tocadas em minha vida”, explica Tesourinha. Homem simples, alheio a qualquer tipo de bajulação, foi difícil convencê-lo a gravar um CD. Ele acabou cedendo a pressões de amigos, entre eles o jornalista João Carlos Ferreira, Euclides Facchini Filho, Marcinho Costa e o músico Walter Ferreira que também participou da gravação. O CD foi lançado recentemente e vendido com renda para a Santa Casa local.
Seus familiares prestigiaram a merecida homenagem, na noite de segunda-feira.
História
Nascido em 1° de novembro de 1.932, em São José do Rio Preto, Tesourinha é filho de Manoel José da Silva e Luisa Cândida da Silva. Casou-se em 1.968 com Aparecida Belizário da Silva e é pai de Eliane, Ester, Raquel e Lucas.
Foi como aprendiz de alfaiate, em 1.948, que Eugênio da Silva passou a ser chamado de Tesourinha. Filho de lavradores de uma família de nove irmãos, começou muito cedo a labuta da vida. Primeiro como engraxate no Cine Paramont e depois alfaiate pelas mãos de Luiz Barbosa, em uma sala comercial na rua Amazonas, ao lado da Casa A Dias.
Aos 17 anos foi convidado pelo Ditinho Alfaiate para compor uma orquestra e, pouco tempo depois, já tinha o seu lugar na Banda Municipal que abrilhantava as festividades da cidade na administração do Capitão Almeida (1.952 a 1.956). Desse tempo, Tesourinha se emociona ao lembrar do toque da Alvorada, às 6 da manhã, todo dia 8 de agosto, aniversário de Votuporanga. É dessa época também a animação da Banda Municipal nas quermesses para levantar fundos para a construção da Santa Casa e da Igreja Matriz Nossa Senhora Aparecida.
A carreira
Nos anos 50 surgiram as grandes orquestras que animavam os bailes de formatura e das debutantes. Tesourinha, Riva e Oliveira lançaram a Orquestra Guarany de Votuporanga que foi a sensação até 1.959. Com o fim da Guarany, Tesourinha se aventurou em outros palcos. Primeiro foi para a Orquestra Pedrinho de Guararapes e, pouco tempo depois, recebeu um inusitado convite: tocar sax na mais importante boate da capital que estava nascendo: Brasília. Ele recorda que a boate Macumba só recebia gente do alto escalão do governo. O vice-presidente da República, João Goulard era um frequentador de rotina. As filhas do presidente Juscelino Kubitschek também tinham lugar cativo. Numa noite o próprio presidente foi cumprimentá-lo. Mas, ele não esquece nunca é do chefe da Casa Civil da Presidência que, discretamente, lhe oferecia cachê para ouvir a sua música predileta. No final do ano de 1.959, quando houve a eleição para presidente, Jânio Quadros venceu e o grupo de músicos foi convidado a tocar no coquetel de despedida de Juscelino Kubitschek, no Palácio da Alvorada. Jânio Quadros, quando assumiu o poder, mudou a rotina de Brasília e os músicos da noite perderam o emprego, a boate fechou por falta de movimento.
Jovem Guarda
De volta a Votuporanga o músico Tesourinha entrou na onda da jovem guarda e criou o conjunto Capri Ritmos. Ele assistiu na quadra coberta do Instituto de Educação o show do jovem iniciante Roberto Carlos, que cantava o seu primeiro sucesso “Calhambeque”. Era o som do momento compartilhado de bandas famosas que surgiam como “Os Incríveis”, “Renato e Seus Blue Caps”, “The Jordan”, e os próprios “The Beatles” que “bombavam” no mundo inteiro. Mudou-se então a denominação para Banda Jovem Capri que tocou a balada da jovem guarda por esse Brasil afora.
Cidade contra Cidade
O famoso programa de Silvio Santos, “Cidade contra Cidade”, a maior audiência televisiva da antiga TV Tupi, teve uma vez Votuporanga vencedora da competição. Um dos quadros do programa pedia um talento na execução de um instrumento musical. Votuporanga levou Tesourinha e venceu Andradina (l.968). O prêmio aos vencedores era a doação de uma ambulância para a Santa Casa.
Música e Votuporanga
Tocar e viver em Votuporanga são duas das grandes paixões de Tesourinha. Ele toca sax, clarinete e flauta e diz que só vai parar quando “minhas pernas não puderem me aguentar”. Sobre Votuporanga, ele comenta: “foi aqui que me casei e tive meus filhos. Até a minha sepultura já está adquirida e é aqui que vou ficar para sempre”, finalizou.
Atualmente, ele toca no grupo Jalão e Marta, na Corporação Zequinha de Abreu e também faz suas apresentações individuais.