O acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, mata 68 mil brasileiros por ano e, no mundo todo, acomete cerca de 15 milhões de pessoas. Ele está no grupo das doenças cardiovasculares, assim como o infarto, que representam a principal causa de morte no país -- quase de 30% dos óbitos.
Para reverter esse quadro, é preciso agir em duas frentes: prevenção e atendimento rápido. Sabe-se que dois milhões de células são destruídas a cada minuto, quando o paciente está sofrendo um ataque cerebral. Isso reduz sua chance de recuperação e aumenta o risco de morte. O ideal é que o atendimento seja realizado em até três horas.
A agilidade é fundamental, pois ela reduz em 4% o risco de morte para cada 15 minutos ganhos no atendimento. Esse percentual também vale para o risco de hemorragia cerebral, outro fator importante para determinar a capacidade de recuperação do paciente.
"As vítimas de ataque cerebral têm 3% mais chance de voltar para casa e aumentam em 4% a possibilidade de voltar a andar para os mesmos 15 minutos ganhos no atendimento precoce", explica a neurocirurgiã Dra. Alessandra Gorgulho, do HCor Neuro.
Ataque Cerebral e Ataque Cardíaco têm semelhanças
Em muitos aspectos, o AVC é parecido com o infarto do miocárdio, e pode ser chamado ataque cerebral. Ambos são doenças vasculares, ou seja, são causadas pela obstrução de artérias. A consequência disso são lesões no órgão acometido (cérebro ou coração), que podem deixar sequelas graves e frequentemente ser fatal.
As doenças cardiovasculares, juntas, lideram as causas de morte no Brasil, sendo responsáveis por quase 30% de todos os óbitos. "São números expressivos e tendem a aumentar, pois a doença está ligada a fatores de risco cada vez mais frequentes na população, como excesso de peso, hipertensão arterial e idade avançada", explica o neurocirurgião Dr. Antonio De Salles, do HCor Neuro.
Uso de medicamentos
Hoje, os pacientes têm até quatro horas e meia do primeiro sintoma para serem medicados com antitrombóticos, que desobstruem as artérias. Este pronto atendimento ainda não é realista na maioria dos hospitais no nosso pais, principalmente porque o diagnóstico do AVC não ocorre rapidamente na maioria de nossas comunidades.
Depois desse período, o médico precisa recorrer a procedimentos menos efetivos, sendo que a chance de sequelas e de morte é maior. Diante disso, o HCor Neuro, em parceria com o Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP) do hospital, está elaborando estudos multicêntricos no intuito de desenvolver medidas preventivas para o ataque cerebral em âmbito nacional. Na prática, os médicos irão avaliar medidas para aperfeiçoar os processos de atendimento ao paciente com AVC, em busca de alternativas para ganhar e garantir agilidade.
Como reconhecer um AVC
Os principais sintomas de AVC são:
Alteração de equilíbrio, coordenação e modo de andar;
Confusão, alteração de fala ou compreensão;
Alteração na visão, dor de cabeça súbita, intensa e sem causa aparente;
Fraqueza ou formigamento na face, no braço ou na perna, especialmente em um lado do corpo;
Tontura, perda de consciência, seguida ou não de paralisia em um lado do corpo.
Tipos de AVC
Existem dois tipos de ataques cerebrais: o isquêmico e o hemorrágico. O primeiro por obstrução de um vaso sanguíneo, enquanto o segundo acontece pela ruptura, causando hemorragia intracraniana. Ambos podem ser fatais ou levar a deficiências físicas e cognitivas severas, dependendo da área cerebral afetada. Sabe-se que 87% dos ataques cerebrais são isquêmicos e 13% são hemorrágicos. Uma em cada 10 pessoas que sofrem um "ataque cerebral" terão outro ataque nos próximos 12 meses seguintes.
Fatores de risco que podem ser evitados:
Hipertensão arterial;
Tabagismo: fumantes têm duas a três vezes mais chance de sofrer um AVC;
Diabetes: aumenta três vezes o risco de AVC isquêmico, não afeta o risco do AVC hemorrágico;
Estenose das artérias carótidas. Esta ocorre por um acúmulo de placas de colesterol na artéria, consequentemente triplicando a possibilidade de falta de sangue ao cérebro;
Doenças do coração: estas dobram a incidência de AVC. O controle da doença cardíaca é uma das grandes maneiras de prevenir o “ataque cerebral”;
Anormalidade dos lipídeos no sangue, colesterol: manter baixo o total LDL e aumentar HDL. Isto pode ser feito com exercício físico, controle do peso e uma dieta baixa em gorduras saturadas e uso de estatinas;
Obesidade: esta aumenta o risco de AVC em 50% à 100%;
Terapia hormonal, pós-menopausa e mesmo adultas jovens tomando anticoncepcional em associação com enxaqueca;
Abuso da bebida alcoólica: mais de duas bebidas alcoólicas por dia dobra a chance de AVC. Em excesso, o álcool leva a um aumento da pressão arterial, arritmias cardíacas que explicam o aumento do AVC. Bebida em moderação (homens até dois copos de vinho e mulher até um copo por dia) diminuem o risco de AVC;
Estresse crônico aumenta a incidência de AVC, principalmente do isquêmico.
Fatores de risco que não podem ser evitados:
Idade elevada: acima de 50 anos o risco de AVC dobra a cada dez anos. Menos que 30% das pessoas que sofrem AVC o têm abaixo de 65 anos;
As mulheres têm mais AVC que os homens. Em parte porque vivem mais, atingindo maior longevidade, mas também pelo uso de anticoncepcional em certas circunstancias, bem como as doenças relacionadas a gravidez;
História de AVC na família;
Pessoas da raça negra têm maior chance de sofrer um AVC;
Ataques isquêmicos transitórios (AIT) precedem os “ataques cerebrais” em 15% das vezes, portanto os sintomas de AIT devem ser vistos com seriedade. A mortalidade dos sofredores de AIT é de 12% a 13% em um ano após o evento;
História de um AVC prévio: aproximadamente 7% das pessoas que sofreram um AVC vão sofrer outro em um ano, 16% em 5 anos e 25% em dez anos;
Pessoas nascidas com baixo peso, ou seja, abaixo de 2,5kg, têm duas mais vezes chance de ter um AVC na idade adulta.