Andressa Aoki
andressa@acidadevotuporanga.com.br
Eles são crianças, bochechudas, com pernas e mãos gordinhas. Fofo, não? Nem sempre. Hoje em dia, a obesidade está atingindo também os pequeninos e causando a eles diabetes, hipertensão, elevação dos níveis de colesterol e triglicérides, tendência à coagulação acelerada do sangue, alterações na parede interna dos vasos e maior produção de insulina.
As nutricionistas da Consultoria Alimentare, Fernanda Brandão de Oliveira e Thaís Helena Martins Viola, explicaram o motivo de ter tantos bebês obesos. "O padrão
atual de consumo alimentar na infância erroneamente está baseado na excessiva ingestão de alimentos de alta densidade energética, ricos em açúcares simples, gordura saturada, sódio e conservantes, e pobres em fibras e micronutrientes. Os principais responsáveis pelo aumento acelerado da obesidade infantil no mundo e em nosso país estão relacionados ao ambiente, às propagandas veiculadas nos vários meios de comunicação e às mudanças de modo de vida", disseram, em entrevista ao jornal A Cidade.
Elas ressaltaram que a prática da alimentação saudável deve ser realizada desde o início da vida fetal e ao longo da primeira infância, contemplando a alimentação da gestante, o aleitamento materno e a introdução da alimentação complementar, para que se tenham impactos positivos, "afetando não somente o crescimento e desenvolvimento da criança, mas também as demais fases do curso da vida. O inverso também ocorre, com a prática da alimentação inadequada, que pode levar ao risco nutricional, como a desnutrição ou excesso de peso, gerando um aumento da suscetibilidade para doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta, como diabetes, obesidade, doenças do coração e hipertensão. Portanto, pais que possuem hábitos alimentares saudáveis, certamente terão filhos com os mesmos bons hábitos", emendou.
"Os pais, a família, assim como as instituições de educação têm um papel importante na promoção da alimentação saudável, pois são estes que determinam os alimentos que serão oferecidos, estabelecendo limites em relação aos alimentos inadequados, tais como refrigerantes, balas, doces, guloseimas, frituras e alimentos gordurosos, visando a proteção à saúde e prevenção do excesso de peso. Na
infância, deve ser estimulado o consumo diário de arroz, feijão, frutas, legumes e verduras, incluindo os folhosos, laticínios e carnes magras", orientaram.
Buscando o desenvolvimento saudável da criança, sempre que possível, os profissionais devem promover a prática de atividades lúdicas que estimulem a atividade física no âmbito da família, creche, escola e comunidade. "Podem-se estimular práticas rotineiras de lazer, segundo a faixa etária (subir e descer escadas, acompanhar o adulto em trajetos por caminhadas curtas, no lugar da locomoção por veículo, etc., correr, brincar de pique, pular corda, pular amarelinha, nadar, jogar bola, dançar, andar de bicicleta, ou seja, estimular a realização de atividades físicas nos momentos de lazer no cotidiano, aproveitando espaços públicos para
realização de atividades dirigidas às crianças", sugerem as nutricionistas.
A prevenção à obesidade é de extrema importância para o desenvolvimento da criança. Chegar à vida adulta com excesso de gordura no corpo, além de aumentar o risco de várias doenças, dá início a uma batalha sem fim contra a balança. Uma afirmação de consenso dos National Institutes of Health, dos Estados Unidos, ilustra como pode ser inglória essa luta: "Adultos que participam de programas
de emagrecimento podem esperar uma perda de apenas 10% do peso corpóreo, no máximo. Cerca de 50% dessa perda são repostos em um ano, e, virtualmente, todo o resto é recuperado em cinco anos".
Dicas para uma alimentação saudável
Assim como para os adultos, as dietas alimentares para as crianças devem ser personalizadas, prescritas e acompanhadas por um nutricionista especializado na área, porém algumas dicas põem ser seguidas por todos. São elas:
— Manter aleitamento materno exclusivo até o 6º mês de vida da criança. Quanto mais tempo a criança mama no peito menor a chance de se tornar obesa.
— Não oferecer açúcar, doces em geral, salgadinhos, refrigerante, refrescos artificiais, achocolatados, gelatinas e outras guloseimas antes dos 2 anos de vida. Essa prática estimula as crianças a preferirem esses alimentos em substituição à alimentação básica.
— A criança que come arroz, feijão, verdura e carne duas vezes ao dia não tem necessidade de ingerir doces, guloseimas e bebidas adocicadas.
— Alimentos ricos em gordura como frituras, bolachas recheadas, sorvetes, embutidos (salsicha, mortadela, linguiça, presunto, toicinhos) não devem ser oferecidos antes dos 2 anos.
— Não oferecer comida para a criança enquanto ela assiste TV. Nenhuma criança deve ver TV mais que duas horas por dia.
— Separar a refeição em um prato individual para se ter certeza do quanto a criança está realmente ingerindo;
— Estar presente junto às refeições mesmo que a criança já coma sozinha e ajudá-la, se necessário;
— Não apressar a criança. Ela pode comer um pouco, brincar, e comer novamente. É necessário ter paciência e bom humor;
— Alimentar a criança tão logo ela demonstre fome. Se a criança esperar muito, ela pode perder o apetite;
— Não forçar a criança a comer. Isso aumenta o estresse e diminui ainda mais o apetite. As refeições devem ser momentos tranqüilos e felizes;
— Adequar em quantidade e qualidade (oferecendo de forma equilibrada todos os nutrientes necessários para cada fase do curso da vida);
— Variar os alimentos, de forma a facilitar a oferta de todos os nutrientes necessários ao organismo;
— Respeitar intervalo de 2 a 3 horas entre a ingestão de qualquer alimento e o horário das principais refeições;
— Fracionar a dieta em 6 refeições diárias, incluindo os lanches;
— Se houver recusa da refeição principal, não substituir por leite ou outro produtos lácteos. Oferecer mais tarde;
— Manter a presença de verduras e legumes nas refeições, mesmo que a criança não os aceite, mas sem a obrigatoriedade do consumo e sem comentários, caso
sobrem no prato;
— Servir as refeições sem a presença de sucos, refrigerantes, ou líquidos açucarados. Esses líquidos podem ser oferecidos após o término das refeições;
— As guloseimas não devem ser utilizadas como recompensas ou castigos.
Leia na íntegra a versão online