Neste país alguém sempre tem que pagar a conta. Deva ou não. Desta vez foram os empobrecidos moradores de São José dos Campos. Aqueles que a televisão vem mostrando o desespero. Você já se imaginou numa situação daquela? Não? Felizmente. Deve ser uma situação deplorável. Sentir-se traído pelas adversidades que a vida nos impõe e de viver num país que não tem um pingo de responsabilidade social. Aqueles infelizes morando lá desde 2004, com certeza tiveram instalado ou colocado à disposição os sistemas de água e energia pelo poder público. Se o governo sabia disso na época, por que não tomou providências humanas e decentes? O terreno pertence à massa falida do mega caloteiro Naji Nahas que burlou a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro emitindo cheque sem fundos. Claro que não estaria sozinho. Esses negócios de grande vulto sempre têm um grupo por traz. Dizem que no meio em que vivia esse povo tinha movimento ilícito com drogas. Onde não tem? Há tempos atrás no Acre foi destituído e preso um ex-deputado federal e coronel da Polícia Militar envolvido com “o crime da motosserra” e um esquema de esquadrão da morte!!! Quer coisa mais perniciosa e nojenta? Foi preso e condenado porque tinha culpa, caso contrário não teria sido. Mas já está livre também. Ficou onze anos em regime fechado e já está na rua. Nesta semana que passou, nosso ilustre governador determinou que o poder policial ultrajasse direitos sociais de infelizes trabalhadores. Lá no bairro de Pinheirinho em São José dos Campos. Pelo que a imprensa mostrou não havia ladrões e baderneiros. Um povo pobre sim, mas digno de cidadania e respeito como todo brasileiro. Os direitos do cidadão precisam ser preservados. A lei precisa ser cumprida, mas antes disso a dignidade precisa ser respeitada em nome da própria lei. De nada adianta o ilustre mandante aparecer aos domingos na Igreja, tomar comunhão, orar com as mãos cruzadas ao peito e fora dela agir como Pilatos! Na localidade onde as pessoas foram despojadas dos direitos tinha crianças, pessoas idosas, pessoas doentes que precisavam ser respeitadas. Com certeza, em períodos eleitoreiros lá estiveram diversos interesseiros nos votos daquele povo. Ninguém apareceu agora para ajudá-los ou pelo menos fazê-los entender o que estava acontecendo. Pelo pouco que conheço, ser Cristão, não é calejar joelhos em atividades religiosas. Não é olhar para o céu e esperar que a bênção derrame sobre sua família. Ser Cristão é empenhar-se em diminuir nos necessitados as dores de suas falhas. É ajudar o próximo de forma incondicional. E essa era a hora da prática da benevolência. Sabendo-se que uma ação judicial estava prestes a ser concluída, por que não foi viabilizado um terreno para onde essas famílias pudessem ser transferidas? O governo federal não tem um projeto de casas populares para as pessoas de baixa renda? Por que isso não foi utilizado? A atitude do representante estadual do povo de São Paulo me entristeceu. Com certeza a muitos também. Essas famílias devem estar empoleiradas em locais inadequados, sem um mínimo de higiene, esperando por migalhas e comiseração. Pais de famílias com vergonha dos próprios filhos que lhes pergunta “o por que dos fatos” e eles não têm resposta. Imagine você numa situação dessas, sem saber para onde ir, sem saber se os seus poucos pertences serão resguardados, porque nem isso eles tiveram tempo de levar. Para onde foi a bagagem dessa gente? Extraviou? O mínimo que podemos esperar é que essa injustiça e essa falta de preparo de governos para resolver problemas da sociedade possam ser humanamente revistas. Ainda bem que por estas bandas a sensibilidade executiva tem sido das melhores. Vamos torcer para que continue. O poder público precisa ter maturidade, precisa saber que o povo que o elegeu faz parte da sua administração.
*Prof. Manuel Ruiz Filho
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