Poucos se lembram e muitos nem sabem, mas minha bela, maravilhosa e eterna relação com “seo” Mário Pozzobon teve início da forma mais inusitada possível, rivalizando. Ele prefeito, escolhendo o candidato à sua sucessão, eu participando ativamente da articulação para escolha do candidato de oposição. Por motivos profissionais frequentava assiduamente o seu gabinete como setorista do Jornal A Cidade e da Rádio Cidade, sempre manifestando minhas preferências e ele, as dele. Dá para imaginar o quanto eram acirrados nossos embates, porém respeitosos.
Por esta breve explicação, ninguém em sã consciência poderia imaginar que entre nós pudesse nascer uma amizade sincera, de respeito e admiração tão profunda como a que todos que dela tiveram conhecimento puderam testemunhar ao longo de anos.
Dito isso, permito-me viajar pelo universo da imaginação, já recheada de saudades e buscar no fundo do coração palavras que possam traduzir e testemunhar a incrível presença de espírito, senso humanitário e sensibilidade do “seo” Mário.
Na política, perdendo ou ganhando, jamais menosprezou um adversário ou se autointitulou melhor que os demais. Na vida empresarial enfrentava desafios inimagináveis como um menino a soltar sua pipa, sabia que a qualquer momento o vento sopraria a favor, e sempre soprava. No convívio familiar, sem esforço exercia sua condição de filho, esposo, pai, avô, e irmão exemplar e no relacionamento com os amigos o respeito não tinha outro lugar senão o primeiro.
Tratava a todos de maneira carinhosa, inclusive os muitos adversários e os poucos desafetos. Dedicava horas a contar histórias com a lucidez de um menino e era sempre o primeiro a se fazer presente quando a situação exigisse.
Altivo, não se curvava diante de nada ainda que isto lhe custasse caro. Austero e diligente com a coisa pública, não arredava pé de suas convicções, mas antes de tudo uma pessoa afável, carinhosa que tinha maneiras próprias de tratar as pessoas da forma mais respeitosa possível. Os homens eram “amigo”, “chefe”, “comandante”. Para as mulheres, o tratamento era sempre o singular “querida”, invariavelmente acompanhado de um despretensioso afago.
Sua trajetória de vida, não necessita ser relembrada, afinal sua obra está perpetuada na lembrança de todos. A tristeza de sua partida também não precisa ser contada, afinal o sentimento que brota em todos quantos dela falam, já diz tudo.
Importante mesmo para mim, que muitas vezes tive a felicidade de ser confundido com um da família, e na verdade assim era considerado, é atestar para todos quantos puder a incrível maneira de ser do “seo” Mário, que não olhava para o status das pessoas, mas para a essência. O homem que não fazia distinções de nenhuma ordem, que não tinha apego ao poder ou as coisas materiais e que obedecia fielmente a maior de todas as Leis: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
Pelo preâmbulo deste “artigo/testemunho” dá perfeitamente para entender o título naturalmente sugerido. Ele era realmente um verdadeiro “Encantador de gente”.
Uma pergunta sempre me faziam: Se com uma perna só, ele consegue tanto, o que aconteceria se tivesse as duas? Hoje posso responder: Certamente voaria, aliás, voou, virou anjo e foi para os braços do Pai Celestial. Deus, na sua infinidade bondade nos permitiu este convívio, e certamente não pôde protelar a sua volta. O Céu merece.
*Julio Junior foi ex-assessor do ex-prefeito Mário Pozzobon