O futebol cada vez mais tem exigido um preparo físico rigoroso e alimentação balanceada. Os futebolistas hoje em dia precisam controlar o peso com mais rigor para otimizar seu desempenho, acelerar a recuperação e prevenir lesões, mas são inúmeros os atletas que têm problema de sobrepeso. Outra grande dificuldade é quando se aposentam, porque na transição da carreira profissional para a vida pós futebol o ganho dos quilos de diversos craques muitas vezes faz a balança sofrer.
Os nutricionistas nas últimas décadas se tornaram parte indispensável da comissão técnica e o seu plano alimentar agora virou regra. O futebol exige explosão, resistência e força, e a alimentação influencia diretamente a capacidade física e mental dos atletas, como se comprova cientificamente. Portanto, a nutrição equilibrada é essencial para o desempenho jogadores de futebol.
No caminho da aposentadoria muitas vezes começam a surgir problemas que vão elevar o ganho de peso. A diminuição da intensidade de treinos é uma delas. Como disse o jornalista inglês de futebol, Tim Vickery, da BBC, “na corrida entre atleta e tempo só tem um vencedor”. Encerrada a carreira, a imensa maioria dos atletas para de treinar com aquela frequência e intensidade regular, e liberam seus desejos reprimidos de comer aquilo que foi restrito por muitos anos e estava muito aguçado na sua mente.
A contradição é que a maioria dos jogadores profissionais é de sujeitos ricos, milionários ou multimilionários, e poderiam ‘fechar’ facilmente churrascarias, hamburguerias, docerias, pizzarias, cantinas, etc. só para ele, seus amigos ou sua família. A questão seria somente a conta final, não aquela que o garçom traz depois da refeição, mas a outra que vai somar os quilos ao número que seria seu peso ideal.
Nessa metamorfose de carreira consta também a mudança de metabolismo e alguns atletas podem ter uma condição natural que dificulta a perda de peso, e isso costuma se intensificar após os 30 anos. Por causa do fim da carreira fatores psicológicos, e até a perda de status, podem gerar problemas emocionais e descontrole alimentar. Outra situação que costuma surgir são os problemas hormonais como hipotireoidismo, que são até comuns na população e afetam incisivamente a regulação do peso.
Frequentemente, os boleiros buscam reverter o aumento de peso, porém o procedimento é às vezes complicado, principalmente quando elementos psíquicos, familiares, sociais ou médicos estão envolvidos. Os casos de sobrepeso de jogadores durante a carreira no futebol brasileiro são notórios. Eles na esmagadora maioria das vezes estão ligados a mudanças no estilo de vida, condições médicas, uso de medicamentos como corticoides e até desafios emocionais.
Talvez o mais dramático seja o do super craque, Ronaldo Fenômeno. Ele começou a ganhar peso após encerrar sua carreira em 2011, o que chamou a atenção. Ao longo de sua carreira e apesar de ser esforçado e ativo, experimentou períodos de aumento de peso, principalmente nos tempos em que jogava no Real Madrid, da Espanha. Também, enfrentou desafios físicos, principalmente nos joelhos.
Ronaldo foi diagnosticado com hipotireoidismo após interromper a sua carreira como jogador, uma condição que dificulta a perda de peso. Esta circunstância interfere no metabolismo, resultando no aumento de peso mais rápido. O estresse também foi admitido por ele e se tornou mais um fator que interferiu no controle do peso durante e depois da sua trajetória profissional.
Um dos grandes talentos do futebol brasileiro, Adriano Imperador, enfrentou dificuldades ao longo de sua carreira, especialmente na segunda metade, quando também começou a ganhar peso. Em parte, o aumento do panículo adiposo foi consequência de uma mudança no estilo de vida e de problemas emocionais e psicológicos. Isso incluiu a perda de pessoas próximas e até mesmo o impacto da vida pública intensa, sempre registrado na mídia. Essas mudanças devem ter afetado seu comportamento alimentar após seu afastamento dos campos.
Já o atacante Jardel, que fez muito sucesso no Grêmio e na Europa, começou a ganhar peso após o declínio de sua carreira. Contribuíram para o crescente peso de Jardel, além de dificuldades financeiras e emocionais, problemas com o uso de substâncias químicas. O problema se agravou com a dificuldade de manter aqueles procedimentos de vida saudável após a carreira.
Um dos exemplos mais marcantes da dificuldade para manter seu peso no alto rendimento foi o atacante Walter, conhecido também por ser talentoso e ao mesmo tempo polêmico. Além de gostar muito de comida (ele próprio admitiu em entrevistas sua atração por doces e massas), Walter detém uma predisposição genética para ganhar quilos rapidamente. Para manter sua massa corporal em algumas fases de sua carreira precisou de muito acompanhamento nutricional e psicológico.
Quando jogava pelo Porto, em Portugal, mesmo com bom desempenho, marcando 16 gols em 33 jogos, sofreu vários questionamentos sobre o seu peso, e teve que deixar o clube, e assinar por empréstimo com o Cruzeiro, de Minas. Também não conseguiu permanecer no time por muito tempo e foi emprestado para o Goiás. Sua chegada nesse clube já começou um pouco turbulenta, porque estava com alguns ‘quilinhos’ a mais na época.
O craque tinha que se desdobrar para manter sua forma física e, do alto do 1,78 m de altura e aproximadamente 118 kg de massa corpórea, o jogador se tornou um destaque do grupo. Acabou tendo um ótimo desempenho e foi campeão brasileiro da série B e artilheiro da equipe com 16 gols. Tornou-se muito querido pela torcida, e como a revista Placar da época o definiu: um “artilheiro de peso”. Ao longo da carreira conquistou outros campeonatos importantes e prêmios pessoais. Atualmente, é influencer e tem mais de 200 mil seguidores no Instagram. Ele continua robusto.
O peso também pode dar muitas voltas entre os boleiros. Um dos mais extraordinários jogadores brasileiros, o Zico, começou sua carreira no futebol muito franzino. No início, nas categorias de base, o ‘Galinho de Quintino’ tinha apenas 1,55 metro de altura e pesava 37 quilos e teve que ‘ganhar corpo’ por meio de uma rica dieta em vitaminas e muito treinamento de musculação para se fortalecer e proporcionar melhor desempenho físico e técnico. No final desse trabalho, conseguiu aumentar sua altura para 1,72 metro e elevar seu peso para 66 quilos.
No Japão, quando começou a trabalhar como treinador com os clubes em 1991, logo de início mudou as diretrizes nutricionais dos jogadores, para melhorar a base energética da equipe, inserindo assim carboidratos, fibras, proteínas, ferro, cálcio, e diversas vitaminas (principalmente do complexo B). Treinando clubes e seleções, Zico morou em seis países diferentes e, portanto, saboreou o que havia de melhor.
Na sua longa temporada no Japão descobriu as delícias da culinária nipônica como o bife de Kobe (o mais caro do mundo); o shabo shabo, uma carne macia com legumes mergulhados num molho; o popular tempurá, um empanado de frutos do mar e legumes; e novas sopas, um tipo de comida, que já degustava regularmente no Brasil especialmente, aquelas de origem portuguesa, já que é filho de lusitanos.
Hoje é dono de um bar chamado Quintal do Zico, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Ali o cardápio apresenta diversas receitas da culinária trivial. Uma receita de sucesso do menu é a que leva namorado, lula, mexilhão, camarão, dendê, leite de coco, pimentão, cebola, alho, gengibre, pimenta dedo-de-moça, sal e azeite de oliva. O craque, quase um gourmet, já foi até convidado do programa ‘Alma Cozinheira’, quando degustou polvo à feira, empanadas saltenhas e panqueca de doce de leite, na sobremesa.
Aos 71 anos, está bem longe de ser franzino e na verdade entrou para o time dos gordinhos light com barriguinha saliente e papo, em dia.
Hei ‘Galinho’, não esqueça dos cuidados com o peso e os números da balança! É preciso sempre nutrir a boa saúde e não chutar para a arquibancada os cuidados com a forma física e a engorda progressiva depois do apito final na carreira de jogador.