A extinta rádio Nacional de São Paulo era ouvida em todo Brasil pelas ondas curtas. No nosso interior, à noite, era sintonizada em AM. Na época, era a líder em audiência.
Depois de um dia estafante na lida da roça, o caboclo chegava em casa, tomava banho, esperava o jantar para, em seguida, preparar o bom e velho companheiro de todas as horas, o cigarro de palha. Ele escolhia no paiol a espiga de palha fina, retirava cada uma com muito cuidado para não rasgar e o suficiente para alguns dias de uso. Cortava as pontas e reservava. Com uma das palhas, colocadas atrás da orelha, picava o fumo lentamente, segurando com três dedo, colocava-os na palma da mão, enrolava, acendia e tirava gostosas baforadas. Enquanto pitava, ouvia modas caipiras.
Entrei para a Polícia Militar em 1977. Fui transferido para São Paulo. Depois do serviço, tomei o metro e fui até o Mappim (naqueles tempos, não existia shopping). A bela loja de vários andares em frente ao Teatro Municipal fazia às vezes dos atuais centros de compra. Comprei um televisor portátil, azul, que funcionava com bateria. Escrevi carta dizendo que na próxima ida levaria a novidade.
Enquanto o aparelho não chegava, juntos da mesa no centro da sala, aguardavam a voz do Brasil terminar para, aí sim, sintonizarem a rádio Nacional de São Paulo e ouvir o programa Edgard Souza. O locutor tinha uma voz belíssima, limpa e cristalina. Recebia cartas de ouvintes de todo o Brasil e tratava a todos com muito carinho.
As duplas se apresentavam quase sempre ao vivo. Isso fazia com que cada programa caísse ainda mais no gosto do público. Logo na abertura, dizia: “Alô, senhores, alô, senhoras, boa noite, São Paulo, boa noite, Brasil. Que nossa senhora Aparecida proteja todos vocês, meus amigos”.
Edgard Souza foi um dos locutores mais consagrados que o Brasil já teve. Nasceu na Bahia, em Salvador, no dia 17 de junho de 1932. Como a maioria dos locutores de sua época, iniciou trabalhando no serviço de som de sua cidade.
Aos 18 anos, deixou a capital dos soteropolitanos em direção à capital dos paulistas. Passou por algumas rádios sem ser notado. Em meados dos anos 1960, foi contratado pela rádio Nacional e revolucionou a forma de apresentar as duplas e os trios caipiras. Ele usava português corretíssimo, sem ser caricato, como era a maioria dos apresentadores da época.
Posso dizer sem medo de errar que o locutor Edgard Souza foi, sem sombras de dúvidas, o Faustão de sua imorredoura época.