O progresso é como o oceano, tem seus fluxos e refluxos, seus mares altas e baixas as quais as vezes abrangem períodos seculares. suas ondas incontá-veis assaltam as rochas e depois se estendem sobre imensas superfícies. De autoria de Allan Kardec, artigo intitulado “O Progresso”, esse trecho é um dos mais poéticos escritos pelo autor, no qual ele compara o progresso humano ao movimento natural do oceano, ressaltando que, embora possa haver momen-tos de recuo ou estagnação aparente, o avanço é inevitável, pois é lei da natu-reza.
Assim como as ondas que avançam incessantemente contra as rochas, o pro-gresso também enfrenta resistências. Há momentos em que parece retroceder, recolher-se, como a maré baixa que revela o fundo do mar, expondo os desafi-os, os atrasos, as dores e os entraves de uma sociedade ainda em desenvol-vimento. Mas esse aparente recuo não é estagnação, é apenas uma prepara-ção silenciosa para o novo avanço. As marés da evolução não seguem um ritmo apressado. Elas obedecem à lei do tempo e da maturação dos espíritos. Certos avanços se fazem sentir de forma visível, como as grandes ondas que se lançam sobre a areia e se fazem ouvir. Outros, no entanto, são sutis como correntes profundas, invisíveis à superfície, mas que transformam todo o am-biente por dentro. Cada onda que toca a rocha representa uma ideia nova, um gesto de amor, um avanço na ciência, um passo em direção à justiça. Mesmo que o rochedo da ignorância, da intolerância ou do egoísmo pareça inabalá-vel, a persistência das ondas o desgasta. Nada permanece intocado diante do movimento constante do progresso. E mesmo quando a humanidade se vê em crise, como em tempos de guerra, desigualdade ou retrocesso moral, há um sentido mais profundo operando. São os ciclos naturais do crescimento, em que a dor, muitas vezes, se faz mestra, em que o sofrimento educa, e a refle-xão leva à mudança. O progresso verdadeiro não é apenas material, tecnológi-co ou político. É, sobretudo, espiritual. Ele se manifesta na capacidade de per-doar, de compreender, de respeitar e de construir pontes entre as diferenças. Como o oceano, que apesar de suas tormentas, é sempre caminho, fonte de vida e ligação entre continentes. Portanto, mesmo que hoje estejamos em uma maré baixa, ou enfrentando ondas contrárias, tenhamos confiança: o oceano da evolução continua seu curso. Cada pequena mudança conta. E, inevita-velmente, a maré volta a subir, trazendo consigo novos horizontes.