José Tapparo traz os relatos sobre como é viver em uma zona de guerra e seu trabalho na mais conhecida Forças Armadas do mundo
Além de soldado, José trabalha como mecânico dos tanques e veículos militares utilizados nas ações em território iraquiano ??????? (Fotos: Arquivo pessoal)
Franclin Duarte
franclin@acidadevotuporanga.com.br
Enquanto aqui ainda se trava uma guerra contra o coronavírus, no Iraque um votuporanguense enfrenta uma batalha bem diferente, mas tão mortal quanto. José Tapparo entrou para o exército americano e foi mandado para uma zona onde os conflitos se estendem desde 2003, quando os Estados Unidos invadiram o país do Oriente Médio.
José não nasceu em Votuporanga, mas seus laços com a cidade vêm desde 2008, quando se mudou para cá com o intuito de ajudar sua irmã Natha e seu cunhado, Marcelo Stringarina administração do Cupim Grill. Foi lá que ele conheceu sua esposa, a Mariana, que é filha dos conhecidos cantores Jalão e da Marta.
“A gente se casou, eu tive a minha filha, Ana Beatriz, e quando ela estava, mais ou menos, para completar um ano, a economia ia ruim, aí eu senti vontade de ir embora do Brasil, cogitei alguns países e os Estados Unidos foram um que me deu bastante vontade de conhecer, mesmos sem saber falar inglês nem espanhol.Minha esposa é enfermeira e eu sou formado em eletrônica e logística, pensei 'talvez dê certo lá'. Eu comprei as coisas, me preparei e fui para Miami, em 2015”, contou.
Nos EUA, José tirou visto de trabalho e começou a atuar como caminhoneiro. Mas foi observando a admiração dos americanos por suas forças armadas que decidiu que iria tentar fazer carreira na área, e conseguiu.
“Fui assistir um jogo de hockey no gelo e a câmera do estádio focou num senhor, que já tinha servido no Vietnã, e aí todo mundo bateu palma e é muito reconhecido aqui. É muito bonito quando você fala que está no exército, está com uniforme, todo mundo que passa por mim fala 'obrigado pelo seu serviço'. Todo mundo. É bonito. Você sente que está fazendo uma coisa importante e não via isso no Brasil. Então comecei a estudar, pois a prova é muito difícil e depois da prova passei por um exame físico muito rígido, um psicológico muito rígido, financeiro. Toda a minha vida pregressa foi consultada no Brasil e aqui. Teve uma investigação durante quase três meses, a respeito da minha vida, para eles poderem me aceitar”, contou.
Aprovado no “concurso” ele foi para Carolina do Sul iniciar seus treinamentos e após sua graduação como soldado foi enviado para o estado de Virgínia, onde fez mais três meses de treinamento.
“Um dos momentos mais difíceis, para mim, foi o primeiro choque. Fui para uma base chamada Fort Lee, em South Carolina, e nessa base foi bem complicado. Eu fiquei três meses sem contato com a família, me alimentando mal, passando muito frio, a gente ficava de short e camiseta a 0ºC, fazendo exercício no treinamento básico. É dor física, dor mental, saudade da minha filha, do meu filho, que era recém-nascido, foi bem complicado. Eles não deixam a gente nem conversar com a esposa”, ressaltou.
Depois do intenso treinamento militar, o votuporanguense foi enviado para o Iraque, onde atua numa base chamada Camburing, onde fica o alojamento e estoque. De combustível, água potável, munição, armamento, veículos militares, etc.
“Eu vim para cá em março e só vou voltar em dezembro. O que a gente faz aqui é isso: à tarde e à noite eles saem todos em comboio e a gente vai abastecer as bases que estão no Iraque. Estamos a 40 minutos do Iraque agora, então sai caminhão de combustível, de água, com alimentos, munição e aí esse pessoal sai tudo em comboio, descarrega tudo lá para o pessoal de infantaria que está no Iraque e volta. Hoje está bem tranquilo, mas ainda tem risco. O Iraque é considerado um 'ponto quente', então tem que ir sempre com proteção, armado, não pode ir sozinho, sempre em grandes grupos. E não tem diversão. É de segunda a segunda trabalhando. Eles dão um dia de folga na semana, mas todo mundo de sobreaviso”, completou.
Juntos José e Mariana têm dois filhos, a Ana Beatriz, de sete anos, e o Israel, de três anos. Hoje, além dos desafios da guerra, ele encara a saudade da família. Mariana está em Votuporanga validando o seu diploma de enfermeira para atuar nos Estados Unidos e depois disso e do soldado cumprir a sua missão no Iraque é que eles poderão voltar a ficar juntos em solo americano.