Tite recebeu Paolo Guerrero no Corinthians pouco após a conquista da Copa Libertadores da América de 2012. Apesar da desconfiança inicial do peruano, construiu-se rapidamente entre eles uma relação sincera e decisiva no triunfo alvinegro no Mundial de Clubes poucos meses depois. Com Alexandre Pato, que não soube usar a cabeça como o autor dos gols contra Al Ahly e Chelsea, foi muito diferente.
"O Guerrero é um guerreiro na acepção da palavra", afirmou o treinador, explicando por que foi tão fácil a adaptação do centroavante ao clube do Parque São Jorge. Como o cara que viria a ser o herói preto e branco no Japão já tinha a característica mais admirada pelos corintianos, bastou ao treinador pedir-lhe paciência.
"Ele é um jogador com sangue, competitivo, e entrou em um grupo com tratamento igual. No início, quando ainda não era titular, veio conversar comigo: ‘professor, no que eu posso melhorar?’. Respondi: ‘a primeira coisa que você deve ter é calma para que a gente possa explorar todo o seu potencial’. Ele deve ter pensado: ‘será que esse cara está me enrolando, está de sacanagem comigo?’. Mas ele entrou, começou a fazer gols e permaneceu", contou Tite.
Mais do que botar bolas na rede, o camisa 9 mostrou - apesar de uma técnica muito superior - um estilo que Geraldão já havia provado ser um caminho direto ao coração da Fiel. Na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2012, ele sofreu um estiramento no ligamento colateral medial do joelho direito. Dez dias depois, estava em campo em Toyota.
"Ele estava machucado, e eu me lembro de que foram entrevistar um jornalista peruano. ‘Guerrero machucado? Isso não é problema. Ele vai se recuperar e vai estar pronto para jogar. Guerrero é guerreiro’, respondeu o cara. Isso é muito forte", recordou o técnico que está de saída do ainda atual campeão mundial.
Alexandre Pato foi apresentado um mês depois. A condição física era justamente a grande questão em torno de um atleta com uma técnica reconhecidamente apurada. De lá para cá, não houve nenhuma contusão mais grave, mas a tal técnica diferenciada não apareceu com frequência, e a identificação com o clube foi uma realidade bem distante.
"A característica é outra. O Guerrero tem a competitividade estampada na cara dele. O Pato tem a qualidade técnica como marca maior. E é isso o que eu falo para ele: ‘Você precisa ter a sensibilidade de se adaptar ao seu clube’. O Corinthians é competitivo, o Corinthians é Zé Maria, o Corinthians é sujar o calção. O Corinthians é cortar o supercílio, colocar uma bandagem e levar à loucura o torcedor que está na beirada do campo", vibrou.
Tite estava se referindo à final do Campeonato Paulista de 1979. O Super Zé ficou com a camisa completamente manchada, o que contribuiu para alimentar seu mito, muito mais calcado em sua raça do que em sua boa técnica. Pato ainda parece não entender por que Super Zé é Super Zé, mas há quem acredite que essa compreensão esteja perto de acontecer.