O conhecido Devanir do queijo da praça São Bento contou para o A Cidade os detalhes da tragédia que viveu nos dias 24 e 25 de setembro
Incidente aconteceu entre as cidades de Guzolândia e Santo Antônio do Aracanguá, na região de Araçatuba (Foto: Reprodução)
Aline Ruiz
Fé em Deus. Foi isso que deu forças para que o votuporanguense conhecido como Devanir do queijo da praça São Bento não desistisse enquanto esperava por socorro no rio Tietê. Foram mais de 10 horas segurando em um barco virado no meio das águas geladas do rio, onde ele presenciou dois de seus companheiros de pescaria perderem a vida por hipotermia. Muito emocionado e com as lembranças ainda frescas na memória, Devanir contou para o A Cidade os detalhes da tragédia que viveu nos dias 24 e 25 de setembro, entre as cidades de Guzolândia e Santo Antônio do Aracanguá, na região de Araçatuba.
Devanir, 59 anos, é pescador nato e sempre organiza viagens ao lado dos companheiros de pesca. “Foi a primeira vez que fui pescar no rio Tietê, organizamos a viagem, íamos passar o fim de semana tranquilos na beira do rio, montar barraca e curtir”, disse.
Por volta das 21h do dia 24 de setembro, um domingo à noite, Devanir contou que ele e mais os três amigos, Diego de Carvalho, Marcos de Oliveira e Walace dos Santos, se preparavam para voltar para a margem. “De repente, veio uma ventania muito forte e virou o barco, nós quatro caímos e ficamos por horas segurando na embarcação. Estávamos muito longe da margem”.
Nos momentos de desespero, Devanir disse que um tentava ajudar o outro com palavras positivas. “Em nenhum momento perdemos a calma, mas a água estava gelada, estávamos perdendo as forças. O primeiro a partir foi o Marquinhos e o segundo foi o Diego, que não aguentou ver o companheiro dele morrendo, foi muito pesado presenciar aquilo. O corpo dele acabou se soltando do barco e só foi encontrado dias depois”, contou.
Devanir contou que a sua fé em Deus não o deixou desistir. “Tive esperança e o meu amigo, o Wallace, me ajudou muito e foi muito prestativo. Nos piores momentos que passamos ele não perdia a cabeça. Passamos a noite no frio e no escuro, sem saber se iríamos sobreviver”, disse.
Quando o dia estava amanhecendo, por volta das 7h, os dois puderam enxergar a margem. “Faltava muito pouco, então o Wallace começou a empurrar o barco em direção à margem do rio, até que conseguimos chegar. Eu estava muito fraco, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Ele buscou socorro e conseguimos nos salvar, ainda estou me recuperando dessa tragédia”, completou.
Devanir trabalha vendendo queijo na feira da São Bento há 40 anos, é casado e tem uma filha. “Sou um sobrevivente, Deus me deu uma segunda chance e, apesar das lembranças ruins, tenho muita coisa boa para lembrar, isso que importa”, concluiu.