Não raro, ouvimos de colegas professores expressões similares a estas: “este aluno não quer nada com nada”; “não sei o que ele veio fazer aqui”; “ele vive nas nuvens”; “o negócio dele é outro”; “já vi este filme antes: é reprovação caminhando a passos largos” etc. Talvez o colega professor não esteja errado. Provavelmente, a sua percepção tem uma base empírica.
Ora, quem diz que o ser humano, naturalmente, deseja sair da zona de conforto? Quem pode afirmar que a alma humana deseja ardentemente ser lapidada e aprender a lutar contra impulsos naturais? Quem garante que a sala de aula e o processo educativo devem ser lugar e tempo de prazer continuado e de constante contentamento?
Basta olhar para nossa própria constituição humana, para a força ou fraqueza de nossa determinação em perseguir o que pretendemos, se é que sabemos o que queremos, ou, basta olhar para os nossos filhos para, então, percebermos que o ato de educar ou de deixar-se conduzir e participar ativamente da construção da própria personalidade não é processo fácil.
O que fazer diante das constatações e das percepções que parecem sinalizar para a ausência do desejo da aprendizagem formal? A primeira tentação costuma caminhar na direção de um dos dois extremos: ou do excesso ou da falta, que acabam implicando um no outro. Ou seja, ao impor sobre todos os alunos, com todo o rigor possível, o melhor programa que pensamos para eles e os submetemos ao nosso ritmo e ao nosso tempo, acabamos, também, por abandonar o aluno a si, deixando-o na natural passividade e jogando sobre ele toda a responsabilidade pelo destino “que o aguarda”.
A sabedoria de educador se realiza evitando esses extremos. A alma de educador, lapidada no caminhar, aprendeu que todo conteúdo pode ser muito bem construído, integrando afeto e disciplina. O primeiro desafio para o educador, seguramente, é fazer-se próximo e trazer o conteúdo a ser construído para a zona de desenvolvimento proximal do aluno, para usar expressão e reflexão de Vygotsky.
Muitas vezes, a maior dificuldade para o aluno relaciona-se às imagens preconcebidas, aos preconceitos construídos na dinâmica escolar ou familiar que inibem a confiança em si, e obscurecem a visão do potencial.
Nesse sentido, inicialmente, o educador deve consagrar-se a alimentar a esperança do educando, sinalizando para as possibilidades e desafiando-o para a constante superação de si. A partir disso, o maior trabalho do educador consistirá em promover intervenções para redirecionar e aprofundar o processo de ensino e aprendizagem, em sintonia com os passos dados pelo educando.
Por isso, o mais importante é fazer com que o aluno se mobilize na prática pedagógica, a partir da consciência de seu potencial e da confiança em seu próprio poder de permanente superação. Esse processo de sedução do aluno passa por um fazer pedagógico que o interpela continuamente a posicionar-se.
Essa dinâmica traz implicações pedagógicas para o cotidiano das nossas aulas. A primeira implicação óbvia e necessária solicita a interrupção de uma prática comum, ainda estruturada sobre uma concepção centrada no professor, segundo a qual o “professor deve dar aula” e os alunos devem passar uma aula inteira “ouvindo o mestre”. Esse tipo de postura pedagógica costuma aumentar a distancia do aluno em relação à necessária atitude de envolvimento afetivo, do qual resulta aprendizagem significativa.
*Celito Meier é teólogo, filósofo e educador,