Alta afetou o preço da arroba do gado; quem 'paga o pato' é o consumidor, diz presidente do Sindicato Rural de Votuporanga
Criar gado ficou mais caro, o que impactou o preço final nos supermercados, segundo Uelinton Peres, presidente do Sindicato Rural de Votuporanga (Foto: A Cidade)
Pedro Spadoni
pedro@acidadevotuporanga.com.br
Quem foi ao supermercado nos últimos dias, percebeu que o quilo da carne vermelha está mais caro. Segundo os produtores rurais de Votuporanga, isso aconteceu por conta da seca e da alta nos preços dos insumos usados para criar gado, principalmente em confinamento.
Conforme explicou Uelinton Garcia Peres, presidente do Sindicato Rural de Votuporanga, ao jornal
A Cidade, o custo do "trato" feito no boi (preço para criá-lo) praticamente duplicou nos últimos meses, por conta desta alta.
"O boi confinado usa ração e a ração, geralmente, tem grande porcentagem de soja. E a soja duplicou o preço. Não só a soja, mas tudo subiu. Todo insumo subiu. Esse preço respingou no preço da arroba do boi. Com a arroba do boi subindo, quem vai 'pagar o pato' é o consumidor. Por isso a carne subiu desse jeito", explicou o presidente do sindicato.
Alta dos preços
Esse "respingo" no preço da arroba, como descrito por Uelinton Peres, foi uma disparada de mais de 50%. Ou seja, o valor também quase duplicou, assim como ocorreu com os insumos.
"A arroba do boi subiu mais de 50%. Hoje, a arroba do boi está sendo vendida a R$310. Há pouco tempo, estava abaixo de R$280. A carne de primeira hoje está em torno de R$45 a R$50 [o quilo]. Até pouco tempo atrás, era de R$30 a R$35. Subiu mais ou menos 50% para o consumidor", disse o presidente do sindicato.
Ele também citou o impacto do aumento exportação da soja e da carne vermelha nos preços de ambos no mercado interno. Em contrapartida, Peres disse que o consumo interno não aumentou.
"Quanto mais você exporta, há uma recessão de oferta internamente. Se você exporta muita soja, o preço da soja sobe [para o país]. A soja que em novembro [de 2020] estava R$80, no máximo R$90, hoje está em torno de R$160 e R$170. A carne também é exportada, principalmente para a China. Então a procura [externa] pela carne foi muito maior", explicou Uelinton Peres.
Relato
O agropecuarista Rubens Kaneo Abe, que é um dos diretores da Valfran em Votuporanga e trabalha com recria e engorda de gado em confinamento, falou à reportagem sobre os impactos da alta dos insumos no seu trabalho.
Segundo Abe, por conta do aumento, o custo da arroba produzida subiu. Na prática, isso significa que ficou mais caro criar o gado em confinamento.
"Em função dos aumentos dos insumos, o custo da arroba produzida, que no ano passado girou em torno de R$220 no confinamento, esse ano o custo da arroba produzida já está a R$280. Aumentou o custo da arroba produzida no confinamento. Ficou quase 30% mais caro", relatou o agropecuarista.
Outro impacto citado pelo agropecuarista ao jornal foi o preço dos bezerros, que também subiu recentemente. "A parte da recria, um ano atrás você comprava um bezerro por R$2.200. Hoje, um bezerro é R$3.100. Aumentou quase mil reais. Então isso vai interferir na cadeia final", contou Abe.
Assim como o presidente do Sindicato Rural, o agropecuarista citou os impactos da exportação no preço dos insumos e da carne vermelha no mercado interno.
"No mercado interno, diminuiu o consumo de carne vermelha. No mercado externo, não. A China, Arábia Saudita e outros países árabes não pararam de consumir. Pelo contrário, aumentou a exportação de carne. Então isso interfere no preço interno", explicou Rubens Abe.