A disparada dos preços dos combustíveis e ‘pãezinhos’ é o começo das consequências da guerra entre Rússia e Ucrânia na economia local
Os preços dos combustíveis e dos ‘pãezinhos’ já subiram, por conta do conflito armado (Fotos: A Cidade e arquivo pessoal)
Pedro Spadoni
pedro@acidadevotuporanga.com.br
Enquanto os votuporanguenses acompanham os desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia pelo noticiário, as consequências do conflito armado entre os países já começam a aparecer no município, principalmente na economia. Depois da disparada dos preços dos combustíveis, os próximos itens que devem ficar mais caros são os derivados de trigo – os “pãezinhos”, por exemplo - cujo valor subiu recentemente.
Nesta reportagem, o jornal
A Cidade explora como os preços estão aumentando por aqui, porquê o conflito no leste europeu os afeta e o que esperar das próximas semanas. Para isso, a reportagem conversou com comerciantes e Juny Figueredo, professor do curso de Economia da Faculdade Futura de Votuporanga.
Milho e trigo
Entre os alimentos, dois produtos estão sendo afetados pela guerra: o milho e o trigo. Isso porque, juntas, Rússia e Ucrânia respondem por cerca de 30% de todas as exportações globais de trigo. Já a Ucrânia é, por si só, responsável por cerca de um sexto de todo o milho negociado globalmente. “Além do combustível, os preços do ‘pãozinho’ e demais variados de trigo vão começar a aumentar”, projetou o economista de Votuporanga.
É o que vai acontecer, por exemplo, na padaria São Lucas, que fica no bairro Patrimônio Velho, a partir da semana que vem. O dono estabelecimento, Lucas Dahwache, contou que, por conta da alta do trigo, vai precisar subir R$ 2 no preço do quilo o pão francês. “Esse aumento não é comum. É a primeira vez que precisamos aumentar essa quantia no preço”, acrescentou o empresário.
Para o dono da padaria, a alta dos preços é sinal de que, nas palavras dele, a economia está ruim. “Nós [comerciantes] vamos repassando [os aumentos dos preços aos consumidores], para conseguirmos continuar pagando pelas nossas despesas, mas isso diminui o consumo. É o momento que estamos vivendo agora”, disse.
Já em relação ao milho, além dos produtos alimentícios – como óleo de cozinha, cerveja e o próprio milho –, a alta pode impactar bens como etanol e ração animal, que são produzidos, em muitos casos, a partir do milho. Se a ração animal fica mais cara, isso significa que as carnes provavelmente terão um novo impulso de alta.
O preço alto do milho também significa aumento da procura por produtos que possam substituí-lo. A soja, por exemplo, está em alta justamente por ser uma possível substituta para o milho na produção de óleos e rações animais. Só que, como resultado, o óleo de soja também está mais caro.
Combustíveis
Logo após a Petrobras anunciar o aumento dos combustíveis, os preços da gasolina e do diesel, por exemplo, passaram a beirar os R$ 7 em Votuporanga. No dia seguinte ao anúncio, o A Cidade deu um giro pelos postos de Votuporanga e conversou com a gerente de um deles e alguns motoristas sobre os novos preços. “O aumento foi de, em média, 20%. E foi por conta da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Estava na cara que ia acontecer isso. Até essa guerra acabar, a previsão é de aumentos”, disse Thais Carneiro, gerente do Auto Posto Liberdade.
Para o empresário e cantor de Valentim Gentil, Marcos Cambrais, que dirige para Votuporanga todos os dias por conta do seu trabalho, esses aumentos fazem com que as pessoas precisem se adaptar.
“Quando vem os aumentos, temos que nos adaptar, mudar as estratégias etc. Mas está complicado, porque tudo está subindo. [O aumento do preço dos combustíveis] impacta, principalmente, quando precisamos nos deslocar. Eu, por exemplo, moro em Valentim Gentil e tenho que vir todo dia para Votuporanga. Então, isso acaba impactando o meu orçamento, porque dirijo 30 km por dia. No fim do mês, faz uma diferença muito grande”, contou.
Já para Elaine Martins, que é trabalhadora autônoma em Votuporanga, os aumentos são, no contexto da economia, apenas uma espécie de consequência. “Acho que tudo tem custo, nada é de graça. Por isso, acontecem esses aumentos. O combustível, por exemplo, temos que considerar o frete, o caminhão, o motorista etc. Por mais que as pessoas falem do aumento dos combustíveis, acredito que nós temos que considerar, também, o que ele está te proporcionando. Ele permite, por exemplo, que seu carro funcione para você ir trabalhar. O que te traz de benefício e malefício é o que você faz da sua vida e do seu dia a dia. Você trabalha para isso. No caso do combustível, se você não quiser ter custos, vai ter que trabalhar a pé”, afirmou.