O Brasil passou de uma potência do futebol a um mero expectador, depois da eliminação da Copa do Mundo na África do Sul. Acredito que os jogadores estavam se sentindo em casa, pois a África do Sul se parece muito com o Brasil. Eles talvez não imaginavam o tamanho da decepção dos torcedores com a volta do time para casa tão precocemente.
Nós mudamos nossa rotina de vida para torcer. O país quase parou, deixou de produzir imagino, e foi um corre-corre para ficarmos diante de um aparelho de TV e não perdermos nenhum lance.
Vamos todos ficar um bom tempo com um gosto amargo na boca, até porque nos preparamos para ganhar uma competição que acontece de quatro em quatro anos. Acompanhamos atentamente o teste de inúmeros jogadores, até chegar a um time que nunca agradou nem gregos nem troianos.
Depois do fiasco da eliminação, após apresentações que oscilaram entre fraco e razoável, eu e mais 180 milhões de técnicos vamos ficar procurando uma explicação convincente.
Toda a tradição da seleção canarinho, que sempre ostentou uma posição respeitada pelos adversários, não foi suficiente para impor o seu melhor futebol e fazer a festa da galera, mesmo tendo levantado o troféu por cinco vezes.
Logo após o jogo, um silêncio fúnebre tomou conta do bairro em que moro e imagino na cidade inteira, bem diferente do jogo anterior, onde os rojões atravessavam o céu azul, demonstrando toda nossa alegria com a paixão nacional do momento.
Você deve estar se perguntado o que um evento futebolístico mundial desse porte, tem a ver com a vida das pessoas que estão por aí tentando um lugar ao sol. Posso lhe garantir que há uma semelhança muito grande, porque na vida nós também estamos sempre querendo conquistar algo novo, buscando objetivos maiores.
Todos nós procuramos ser campeões na vida familiar, no emprego, na faculdade, na apresentação da monografia e até na pelada de final de semana com os amigos.
Na vida temos de dividir a bola, fazer o passe com precisão, chutar de três dedos e se possível, bater o escanteio e correr para cabecear para dentro do gol.
Temos de enfrentar a prorrogação trabalhando até mais tarde, e quando pensamos que a partida está ganha, ainda temos que enfrentar mais dois tempos com os corpos cansados e não respondendo mais aos estímulos.
Haja coração para conviver com tantas emoções ao mesmo tempo, e ainda ter que sorrir quando o mundo diz não, obrigando-nos a reunir a forças extras para continuar acreditando que é possível reverter o placar adverso. Nem sempre se consegue tal intento, pois na vida, assim como no futebol, a bola vez ou outra chega meio quadrada para tentarmos o domínio e passa-la adiante, ainda mais se for a tão temida jabulani.
Depois de um dia difícil, seja no futebol, seja no jogo da vida, temos uma noite para o repouso do corpo quebrado, sabendo que no dia seguinte vai ter de enfrentar a ira de comentaristas, que não vão amaciar nas palavras diante do mal desempenho.
Nem tudo está perdido e só nos resta recolher acampamento, engolir a seco as piadas dos times adversários e seguir em frente, pois a copa do mundo volta em 2014 no Brasil. Já no campeonato da vida, não temos como tirar férias e ficar de papo para o ar esperando apagar da memória o fatídico dia dois de julho.
Temos que nos preparar para mais uma competição que começa assim que o dia clarear. Levar as crianças para escola, limpar o quintal que está com mato alto, lavar o carro que viu água somente na última chuva, e por fim, fazer a barba que está grande e branca como a neve.
Agora vamos deixar a tristeza de lado e continuar a procura pelo melhor, porque amanhã é outro dia. Fica então a lição de que os dias não são exatamente iguais, pelo contrário, um dia a gente ri e outro a gente chora. Assim é no futebol, assim é na vida.
Um forte abraço a todos.
José Carlos do Lazão - Vereador - Votuporanga