A palavra tormento lembra, por si só, angústia, sofrimento, desespero. Já a palavra voluntário lembra disposição e envolvimento com atividades humanitárias, dedicando nosso tempo e habilidades em favor de iniciativas que visem beneficiar alguém ou a própria coletividade. É palavra muito em uso e indica nossa decisão e esforço em prol de alguma causa, voluntariamente, quer dizer, sem remuneração e por disposição interior.
Já o uso da expressão Tormentos voluntários, como aqui utilizado no título da abordagem, transforma as duas palavras numa expressão que parece incoerente. Como poderíamos nós tomarmos decisões e iniciativas que se transformam em tormentos? Já que são tormentos causados por nós mesmos, ou seja, voluntariamente. Soa estranho, todavia, é real.
Basta pensar: já imaginou o leitor os tormentos causados pelo ciúme e pela inveja? Quem sente inveja vive um tormento interior, e voluntário, porque escolheu sentir inveja e ciúme, optou por esse caminho. E, pior: sofre e faz sofrer...
Todos procuramos a felicidade, mas normalmente em bens perecíveis, que passam, ao invés de procurá-la ou construí-la nas bases sólidas dos prazeres da alma.
E alguém poderia indagar: prazeres da alma? Como? O que é isso?
Ora, é fácil. Admirar a natureza, ouvir o canto de um pássaro, apreciar a chuva, estar na companhia de pessoas queridas, sentir a satisfação da alegria interior ou ainda nos dedicarmos o que verdadeiramente gostamos, como ler, ouvir música, passear, fazer o bem, entre tantos outros exemplos que podem ser citados.
Na verdade, não existe felicidade completa no planeta. Vivemos às voltas com preocupações e atropelos próprios da vida moderna, providências e dificuldades bem conhecidas. Mas podemos construir e viver uma felicidade relativa, ainda que de momentos.
Uma única felicidade real, entretanto, existe. Nem sempre lembrada ou procurada. É a paz de consciência. Construída sobre as bases da honestidade, da bondade. Aquela que nos dá serenidade interior e nos permite adormecer sem peso no travesseiro, sem remorso, sem rancor... Ciúme, inveja, ambição, arrogância, vaidade, rancor, vingança, orgulho, egoísmo, entre outros, são tormentos voluntários, advindos de nós mesmos e que podemos dispensar tranquilamente. Não percebemos, ainda, que o alimento dessas imperfeições é que são as verdadeiras causas de nossas enfermidades?
São elas que formam os autênticos tormentos que nos tiram o sossego, a noite de sono, que fazem doer a cabeça e o estômago... São tormentos voluntários, sim, causados por nossa iniciativa e decisão. Demitamos de nossa convivência tais inimigos. Não servem para nada. Só fazem sofrer, causando prejuízos à saúde e danos nos relacionamentos. Ciúme é tortura dispensável, ciúme é algo absolutamente incoerente, ilógico. Rancor e vingança só fazem sofrer... Vaidade... que bobagem
Quanto tempo perdemos, quando poderíamos investir na alegria de viver, na confiança que podemos dispensar à vida, na dedicação à amizade, na gratidão que nos fará fortes e decididos, no trabalho que nos equilibra. Afinal, não somos concorrentes entre si, somos todos aprendizes do amadurecimento...
Orson Peter Carrara é conferencista - orsonpeter@yahoo.com.br