Muito se fala sobre a diminuição do tamanho dos imóveis. De tempos em tempos esse assunto ganha a mídia e se comenta que unidades de 40, 45, 50 metros quadrados são ‘apertadas’ para abrigar famílias de quatro pessoas. É como se o empreendedor imobiliário fosse cruel ao lançar unidades compactas.
Essa discussão pode ser válida por um único aspecto: é humano manter essas mesmas famílias de quatro pessoas em quartos de cortiços? Esses espaços têm, quando muito, 15 metros quadrados e são repletos de umidade, mofo, não possuem banheiro, pois esse cômodo costuma ser comunitário, possuem iluminação e ventilação inadequadas, são malconservados e insalubres.
É em locais assim que muitas crianças crescem, tendo a rua como escola. Isso não é, no mínimo, desprezar o ser humano e usurpar dessas pessoas a condição de cidadão?
Apartamentos de 40 metros quadrados, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro trazem dignidade, conforto e segurança. Não há como aceitar tranquilamente que pessoas morem em lugares sub-humanos. É preferível vê-las em imóveis formais, de menor tamanho, mas que proporcionem qualidade de vida.
A deficiência habitacional no Brasil é de aproximadamente 7 milhões de moradias, ou 30 milhões de pessoas morando em condições precárias, favelas e áreas de risco. Em virtude de uma série de medidas positivas, tanto do governo quanto das empresas individualmente, a indústria da construção civil e imobiliária assumiu papel social prioritário nos últimos cinco anos e o desafio de impulsionar a mobilidade social dessas famílias, apesar de enorme, é factível. Afinal, nos últimos dez anos, 30 milhões de pessoas saíram das classes D e E para ocupar espaço na classe C.
Aqui no Estado de São Paulo, inclusive, o governo tem investido na construção de unidades habitacionais também compactas, mas com ampla acessibilidade para pessoas com deficiência. Mas devemos considerar que a “deficiência” maior de grande parcela da população é a econômica. Logo, os imóveis devem caber no bolso dos compradores.
Se compararmos as unidades habitacionais formais brasileiras com as de outros países, como a China, por exemplo, perceberemos que nossas condições de moradias são muito favoráveis. Em Pequim, há imóveis de 2 metros quadrados. Isso mesmo! Se aplicarmos essa “visão habitacional” construtiva aqui no Brasil, um dos nossos apartamentos de 40 metros quadrados seria capaz de “acomodar” 20 chineses.
Antes de classificarmos como “perverso” o mercado imobiliário que produz moradias compactas, temos de olhar a habitação sob diferentes perspectivas, principalmente a da dignidade.
João Crestana, presidente do Secovi-SP, da Comissão Nacional da Indústria Imobiliária da CBIC e reitor da Universidade Secovi