O governo do estado está cometendo erro muito maior que o governo federal na distribuição de “bolsa ajuda”. Parece brincadeira o que os governantes andam fazendo. Se já não bastasse a enxurrada de bolsas dadas a “deus quem sabe”, o estado agora quer premiar o aluno fraco com R$ 50, para que ele frequente aulas de matemática ministradas duas vezes por semana com objetivo de melhorar seu índice de conhecimento. Será que esse povo está louco ou somos incompetentes para fazer análise? O aluno fraco é fruto da má distribuição de tudo que é bom neste país, seja renda, educação, emprego, casa, escola, comida, etc.. Perdi a coerência das coisas. Será que esses políticos deficitários em competência não enxergam que o aluno fraco vai continuar fraco para continuar recebendo dinheiro? Será que esses mentores de incompetência não vão enxergar que isso é um incentivo para que o aluno médio fique fraco para poder usufruir da “mesada”? Por que não dobra a carga horária das escolas, pagando melhor o professor ou dando oportunidade de emprego a outros professores que estão desempregados? Não seria isso mais coerente do que dar um mísero R$ 50 ao aluno fraco? Aliás, o que seria aluno fraco na concepção do governo? O pobre? O problemático? O dependente? Cremos que com uma carga horária mais elástica e consistente os alunos fracos teriam condições de melhorar seus aproveitamentos. No livro de Rubem Alves (A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir) há um texto cuja parte reproduzo para justificar o momento: “E não me obrigues a ler os livros que eu ainda não adivinhei; nem queiras que eu saiba o que ainda não sou capaz de interrogar. Protege-me das incursões obrigatórias que sufocam o prazer da descoberta e com o silêncio (intimamente sábio) das tuas palavras e dos teus gestos ajuda-me serenamente a ler e a escrever a minha própria vida”. O que estão fazendo com esse país que tanto amamos!?!? Já não nos basta a barganha do “Bolsa-família”, programa que integra o Fome-zero que começa dando à família em situação de pobreza e de extrema pobreza o valor inicial de R$ 22, agora mais essa mesquinha atitude. Com isso o governo diz assegurar o direito humano à alimentação adequada, promovendo a segurança alimentar e nutricional. Que vergonha! Eu não consigo entender como os legisladores conseguem aprovar um programa de tamanha fragilidade. Você já ouviu falar do “Bolsa-celular”? Não? É isso mesmo que você entendeu. A premissa é que cada beneficiado do “Bolsa-família” receba um aparelho telefônico e mais a estupenda quantia de $ 7,00 por mês em créditos pré-pagos. As operadoras que entrarem no programa serão beneficiadas com isenções tributárias. A viabilidade do projeto ainda está em discussão pelo Ministério das Comunicações e as operadoras interessadas. Levando-se em conta o número de famílias beneficiadas pelo programa (11 milhões), é celular grátis para fabricante trabalhar noite e dia. Não creio que irão reclamar. Pena que na primeira ligação do beneficiado o crédito será totalmente consumido. Isso mais parece venda de aparelho do que outra coisa. As operadoras e os fabricantes de aparelhos devem estar com a boca rasgada até as orelhas de contentamento. Imaginem como será a lisura dessas licitações. Mas, que confusão de bolsas é essa? Uma trombando com a outra. Bolsa-família trombando com bolsa-atleta. Bolsa-atleta trombando com bolsa-cultura. Bolsa-cultura trombando com Bolsa-escola. A Bolsa-escola trombando com Bolsa-formação. Esta trombando com Bolsa-aluguel. A Bolsa-aluguel trombando com Bolsa-estudo. Esta última trombando com Bolsa-celular, e por aí vai o engavetamento na estrada das bolsas. Esperamos, sim, que esse assistencialismo tenha resultado e seja amenizador das agruras de uma sociedade menos favorecida, mas que não seja compensado em nenhuma hipótese com barganha de dignidade e muito menos com sufrágio em favor deste ou daquele. Do jeito que caminhamos não vai demorar muito para a criação do “Bolsa-impunidade”. Nesse você pratica o crime e não será punido porque tem a bolsa que o deixa impune. Ou será que isso já é praticado e ainda não foi oficializado?
Professor MSc. Manuel Ruiz Filho - manuel-ruiz@uol.com.br - BLOG - http://artigosmanuelruiz.blogspot.com/