Por ter o Presidente Lula como cabo eleitoral, Dilma tomou a dianteira na preferência do eleitorado. Por isso o PT, na propaganda, fala sempre em Lula e Dilma. A dupla brada que o Brasil deixou de ser dependente do FMI, que pagou a dívida externa e que mudou para melhor. Que nada! O país está vermelho não só no poder, mas também nas contas públicas. Para começar, a dívida externa não foi paga; está aí, firme e forte: 243,8 bilhões de dólares em setembro/10. O Brasil possui mais do que isso em reservas, que, porém, se referem a capital estrangeiro aplicado aqui devido aos altos juros que o governo paga na captação. Não é dinheiro nosso. Se eles resolverem parar de aplicar, as reservas se vão. É como ficaria um banco se os clientes sacassem tudo que têm em conta. O pior, entretanto, é a dívida interna. De R$ 892 bilhões no início do governo Lula, já pulou para mais de R$ 1,5 trilhão, com previsão para fechar o ano em torno de R$ 1,73 trilhão. Responsabilidade fiscal é algo que o governo perdulário manda às favas. A arrecadação com tributos federais vem batendo sucessivos recordes. Nunca se arrecadou tanto. Mesmo assim, a dívida interna só aumenta, pois não há dinheiro suficiente nem para amortizar os juros. O caminho que está sendo seguido só tem um destino: insolvência e maior dependência do capital externo. Aí sim dará saudade do que o Lula batizou de “herança maldita”.
Lula fez tudo o que tanto criticava como oposicionista. A carga tributária aumentou tanto que o Congresso teve vergonha de prorrogar a CPMF, mas com certeza aprovará a recriação se a Dilma for eleita. O Brasil tornou-se autossuficiente em petróleo, mas não há nenhum benefício para o usuário. A gasolina mais cara é a que sai das bombas dos postos BR. O contribuinte banca os custos da produção e paga preço alto para consumir o produto. Lula inchou ainda mais a máquina estatal, mas para acolher o compadrio e não para melhorar os serviços públicos. E ainda fala em estatizar empresas. O endividamento individual é grande - o brasileiro não tem a cultura de poupar - e isso diminui as chances de resistir à recessão que desponta no horizonte. Em suma, o país está no rumo da bancarrota e mais de 80% da população aplaude! Só 25% dos brasileiros têm alfabetização plena. Analfabetismo total ou funcional é ignorância e facilita a manipulação. Alie-se a isso o baixo grau de civismo e fica fácil implantar uma política populista. Dos três presidentes eleitos após a restauração da democracia, dois são populistas. O que me deixa mais preocupado é que o Serra não se manifesta a respeito, e isso indica que também ressuscitará a CPMF se eleito, para suas policlínicas na área da saúde.
Nenhum dos candidatos fala em diminuir e simplificar a carga tributária, em desburocratizar as relações de emprego, em tirar o governo do caminho de quem quer empreender (o governo atrapalha pacas), em responsabilidade fiscal. Ou desconhecem que a saída para o país está na iniciativa privada ou têm medo de falar nisso e perder votos. Uma campanha eleitoral devia ser didática e informativa, trazer esclarecimentos. Candidatos podem prometer empenho para melhorar isso ou aquilo, mas devem mencionar que tudo vai depender da situação fiscal, de recursos. Não há mágica. Devem também ter a coragem de dizer que o estado não é pai e que é necessário esforço individual, que cada um faça sua parte o melhor possível. Não há país forte se o povo é fraco, omisso, preguiçoso, ignorante. Deixo anotado que não sou contra o bolsa-família e outros benefícios sociais. Acho bom saber que parte da minha renda ajuda a quem precisa. Cresci muito próximo da miséria e sei como é. O que não me agrada é ter o governo como intermediário.
Não é possível ter um presidente perfeito. Os dois candidatos têm fatos mal explicados e ligações desabonadoras sombreando-lhes a imagem. Na política não há santos. Mas a eleição está aí e temos o dever de escolher um. Quem vota em branco ou nulo, ou se abstém, revela descaso com o país e o povo e despe-se de legitimidade para reclamar depois. Se você não considera nenhum dos candidatos bom o suficiente, vote no que lhe parece menos ruim. Mas vote. Eu votarei no Serra porque o vejo como mais decente, mais capaz e também porque já é hora de o poder mudar de mãos. Além disso, quem está com ele me amedronta menos do que a turma da Dilma. A alternância faz bem à democracia, pode funcionar como um sistema de freios e contrapesos do Executivo. Falarei um pouco mais após a eleição.
Paulo Pereira da Costa, promotor de Justiça e autor do livro “Pensando na Vida”, paulopereiracosta@uol.com.br