Estamos assistindo, durante a campanha eleitoral, uma série de ataques que não colaboram em nada para uma discussão realmente relevante, digna do futuro presidente da República. É engraçado perceber que essas “micuínhas” sempre estiveram presentes dentro da nossa jovem democracia. Todas as eleições para presidente da República, após a ditadura militar, foram contempladas com discussões de caráter pessoal e elementos que buscam confundir a concepção dos eleitores sobre os candidatos.
Atualmente nós temos vários exemplos. A questão do aborto sem dúvida é um deles.
Mas para falar sobre isso, reservo outro artigo (ou deixo tal tema para os colegas do blog). Agora, vamos refletir um pouco a insistência, oriunda de dois candidatos, em criar uma máscara demoníaca para seu adversário.
O candidato tucano adora explorar, em suas propagandas na TV, a suposta incapacidade da candidata petista, sua inexperiência em eleições e a acusa de ser uma candidata alavancada por seu padrinho (o presidente Lula), estamos nas eleições por causa dele, e não por seus méritos políticos. O governo da Dilma seria uma cova de obras corruptas, governada por alguém sem experiência e incapaz de controlar a política brasileira.
A candidata do PT também faz ataques no horário televisivo. O candidato tucano é formatado como um presidente que é totalmente contra qualquer tipo de política social e que vai governar formando um Brasil “só deles”. Nas propagandas da petista, vejo um governo tucano oligárquico e radicalmente liberal, próximo das ideias liberais inglesas do iluminismo e, de outro lado, dos governos oligárquicos da república velha.
É evidente que nenhuma das duas caricaturas estão corretas. Mas nenhum candidato se preocupa com a falta de relevância disso. A ideia é construir uma imagem negativa do adversário. Pouco importa a discussão, por exemplo, da taxa de juros na economia brasileira (talvez o tema mais importante que será enfrentado pelo novo presidente, dado ao crescimento brasileiro). O que importa mesmo é denegrir o outro, de um jeito, ou de outro. Apresentados fatos ou, e esse sim é mais comum, especulações cheias de preconceito.
Por exemplo, a candidata petista afirmou que José Serra é réu de um processo de calúnia e difamação. Não quero ser tendencioso, utilizo tal exemplo apenas pelo fato deste ser, talvez, o mais recente ilustrador do parágrafo anterior. Inicialmente, pode se estender que não se trata de algo tão danoso assim à democracia. Citar algo que realmente é verdade talvez seja um momento raro de respeito ao eleitor nessas eleições.
No entanto, atrevo-me a criticar como tal processo foi utilizado pela candidata Dilma. A citação criou um novo sinônimo para a palavra réu: culpado. O caluniador José Serra, o candidato que fala, fala, fala, fala, mas não cumpre. Gosta de ficar criticando os outros, mas, na verdade, não faz nada e mente sobre os adversários.
Parece-me ingenuidade não reconhecer tal jogada política da candidata do PT. Por mais petista que você seja, leitor, não deve duvidar que exista, naquele momento, a tentativa de criar uma imagem sobre o adversário que não necessariamente corresponde com a verdade.
Muitos críticos do meu texto vão dizer que isso é algo típico do processo político, algo inserido na própria natureza da política. Recuso-me acreditar nisso. Pra mim, esse elemento está presente na imatura política democrática brasileira, mas não faz parte da natureza do fenômeno político.
Por mais utópico que isso possa parecer, acredito na evolução da democracia brasileira.
No entanto, não acredito que uma mudança no sistema de governo ou uma gigantesca reforma política possa resolver de vez esse problema. Talvez tais métodos colaborem para o amadurecimento da nossa democracia. Porém, para amadurecer também se precisa de tempo. Talvez a prática democrática seja o principal veículo de superação dessas “micuínhas”.
João de Oliveira de Biazi é votuporanguense e estudante do primeiro ano de graduação pela Universidade de São Paulo