O Prefeito de Votuporanga, em recente pronunciamento, declarou textualmente que a Cidade não tinha dono. Fiquei pensando muito nisso. Quando conheci Votuporanga dez anos atrás a Cidade tinha outra cara. Diziam-me, meio a sério, meio brincando, que até restaurante por aqui fechava para o almoço. E aos domingos, a cidade inteira fechava. Vinha da Capital, estranhava muito não ter supermercados, padarias, farmácias e bancas de jornal à minha disposição, praticamente 24 horas, todos os dias da semana.
Em contrapartida, gostava muito do aspecto tranquilo e afável da cidade e seus moradores, das barraquinhas de verduras e legumes, nas quais os produtores expunham e vendiam a sua colheita diária ou semanal. E os queijos artesanais, o milho verde, o curau e a pamonha. Os carrinhos de lanches. Os sorvetes artesanais. As coisas aqui custavam bem barato, em torno de um terço do que custava em São Paulo. Tudo muito típico e agradável, diferente e atrativo para quem, como eu, vinha da loucura e do agito da metrópole. Logo me adaptei, claro, e por tudo isso, qualidade de vida e custo de vida diferenciados, optei por me transferir de vez para cá.
Logo abriram um hipermercado, o Champion, da rede Carrefour, se não me engano. Uma beleza, eu lá comprava vinhos, a adega era razoável e os preços, ótimos. Na época eu ouvi dizer que, supostamente, haveria uma “queda de braço” entre esse novo supermercado e os concorrentes já estabelecidos por aqui. Da questão da abertura aos domingos, da “chiadeira” do sindicato dos empregados, etc. Foi quando ouvi pela primeira vez dizer que a cidade possuiria alguns donos, seu poder era grande, e só se fazia o que eles queriam, ou deixavam que se fizesse... Duvidei, conversa de “Candinha”, pensei.
Como eu vinha de fora, e não conhecia praticamente ninguém aqui, sinceramente nunca soube quem seriam esses “donos da cidade” e se realmente eles existiriam. Imagine, uma cidade ter dono, até parecia coisa de novela, aquela coisa de coronéis, dos descendentes dos descendentes dos fundadores da cidade manterem o controle econômico, financeiro e político para todo o sempre. E o povo acorrentado e submisso às vontades deles... Só em novela, mesmo... Em pleno século XXI, num regime democrático, com os Três Poderes constituídos e atuantes não se pode sequer imaginar que possam existir donos de uma Cidade, de um Estado ou mesmo, de um país, não é mesmo?
A Cidade cresceu e mudou a sua cara. O trânsito ficou complicadíssimo, o barulho insuportável, a poluição com as queimadas, frequentes, a criminalidade disparou, e a qualidade de vida ficou comprometida, juntamente com o custo de vida, que subiu loucamente nesses últimos anos, por aqui. Agora, com a fala do Prefeito, fiquei matutando nessa coisa de “donos da cidade”. Não sei se eles existem ou não, mas se existissem faria a eles um pedido: “tomem tento!” Não dá para ser ao mesmo tempo cidade interiorana e metrópole! Nesse passo, acabaremos ficando com o pior dos dois mundos. Eu não quero isso, claro, mas já me surpreendi pensando em fazer minhas malinhas e voltar para a Capital. Ruim por ruim, lá pelo menos terei mais comodidades à minha disposição e já sei pelo menos o que esperar e com o que contar...
Norma Moura é advogada, empresária e estudante - Votuporanga
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