“Vassoura, biscoito, pão caseiro?” - apregoa o senhorzinho à porta. “Queijo fresco?” - oferece a mulher. “Quer laranja direto do sítio? ‘tá lá no caminhão na esquina” - vem o homem logo após.
“Panos de chão”, outro diz. “Tapetes, mantas e redes, tudo feito à mão, dona”, grita um outro para mim. “Quer comprar um cofre?” - sorri mais um. “Picolé? “Queijadinha”?” “Salgados”. “Olha a goiaba!”, me assustam outros... “Compra uma empadinha, vai moça, “inda’tá quentinha”, - implora uma mocinha...
“Senhora, pode me dar um trocado p’ra comprar remédio p’ra minha mulher que ‘tá doente...”, fala o homem enquanto balança um papel esfarrapado na minha frente. “Quer receber os Santos Reis?” - me pergunta outro.
“Olha, moça, quer me dar uma ajudinha p’ra mim (sic) inteirar a passagem pra ir no “Se vira nos 30”? (sic), vem pedindo outro. “Tiaaa, dá um trocado “pránóispodêcompracamisaprunossutimeeee” (sic), pedem uns garotos “...
E assim correm os dias, todo tempo, por aqui. Existe um pequeno exército formado por vendedores e pedintes, perambulando pelas ruas de nossa Cidade. Vende-se (ou tentam vender, pelo menos) de tudo. Esmola-se muito, também.
Admira-me o empreendedorismo (palavra tão em voga ultimamente, não é?) de nossa gente. Fazem de “um tudo” para sobreviver dignamente. Saem às ruas com chuva ou sol, sem esmorecer com as negativas que recebem aos montes, provavelmente. Pessoas de ambos os sexos e de todas as idades marcham pelas ruas vendendo e pedindo ajuda aos comerciantes, e aos transeuntes, também.
É a sina do brasileiro, “se virar”, ter iniciativa, se esfalfar na luta diária para levar o pão e o leite para casa. É o comércio informal, na pessoa do ambulante, do mascate que se apresenta de cara limpa tentando se safar das agruras da vida, difícil, que sempre conheceu... Mas ele não desanima, não desiste, nem que quisesse, porque não pode... Vai fazer o que? - roubar?
Quanto aos pedintes, há os eventuais e os profissionais, que passam todo dia, na “cara dura”, vai ver que pensam que nos pegam desprevenidos e levam algum assim, “no mole”. Não dá! Se já está difícil ajudar a tanta gente que necessita, que dirá acreditar na necessidade verdadeira (ou falsa), dos que esmolam.
“Pois procure a Assistência Social”, digo a uns. “Já fui”, se digna responder um deles; outros sequer respondem, seguem seu caminho de loja em loja, de parada em parada, agressivos e mal encarados, sabem bem meter medo na gente.
Uns trazem um papel, apontam, gesticulam, nos encaram... serão mudos, de fato? Em São Paulo, nas principais avenidas, como a Paulista, por exemplo, há cegos, mudos, cadeirantes, e vários deficientes físicos, esmolando... É triste, muito triste. Ademais, é vexatório, constrangedor e humilhante. Para quem esmola e para quem é assediado por eles.
Pagamos impostos altíssimos! Suportamos uma sobrecarga que nos sufoca;
custa-nos cinco meses de trabalho, a cada ano, somente para pagar os impostos e taxas federais, estaduais e municipais. Entra ano, sai ano, a pobreza de nosso povo cresce exponencialmente ao crescimento da população. Os que podem, os ricos, os políticos e grandes empresários se safam, vão flanar na Europa, na Ciudad Del Leste, em Miami e Nova Iorque. E nos deixam para agüentar essa miséria toda.
Até quando? CPMF de novo? Nem pensar! Desejo uma lei para que todo político seja obrigado a contribuir com metade do seu salário anual, para ajudar aos carentes, aos necessitados, aos desabrigados pelas chuvas, desmoronamentos, incêndios e catástrofes que acontecem todo ano nesse Brasil. Por que nós, “classe média-média-quase-indo-a-pique” sempre pagamos essa conta e outra mais, e ainda somos compelidos a ajudar, ajudar, ajudar, dar, dar, dar? Haja coração!
Norma Moura é advogada, empresária e estudante de Pedagogia - Votuporanga
kairosbrinquedos2009@hotmail.com