Ando reparando que o brasileiro, em geral, tem uma mania de seguir modismos, bobagens que vêm sei lá se dos estaites, sei lá se da Bahia ou do Rio de Janeiro. Bastou um global usar, aparecer na novela das nove e pronto! A febre tupiniquim se espalha feito rastilho de pólvora.
Faz muito tempo, a primeira febre tupiniquim que eu me lembro, foi a das
pulseirinhas do São Salvador do Bonfim, que se dizia virem diretamente da Bahia, mas eu tenho para mim que também poderiam vir da Galeria Pagé ou da Rua 25 de Março. Daquelas de pano, coloridas, todo mundo tinha uma, duas, até três, no pulso. Valia fazer um pedido para cada nó. Eram três nós, se não me falha a memória. Mas, detalhe: os pedidos só se realizariam se a pulseira arrebentasse sozinha. Não valia cortar ou puxar.
As tais fitinhas do Bonfim ficavam um nojo, desbotadas, meio roídas. Eu nunca agüentei até o fim, cortava fora tão logo começava a desbotar e a esgarçar. Vai ver que é por isso que nunca ganhei nada sem muito do meu próprio esforço e suor.
Depois, lembro-me das pulseirinhas energizantes, de prata ou de aço, não estou muito certa qual o material utilizado. A promessa era que magnetizava e retirava energias negativas do corpo. Todos usavam, todos queriam uma, e custavam “os olhos da cara”. Eram até bonitinhas, e se não me engano, devo até ter uma guardada em alguma gaveta.
Ano passado nos acometeu a febre das pulseiras de plástico, coloridas; e pretendiam que cada cor tivesse um significado. As meninas ficavam loucas, crianças de todas as idades queriam usar dúzias dessas pulseiras, trocava-se, disputavam cores, presenteavam a amiga ou o menino querido com uma delas. Até eu ganhei duas das minhas pequenas sobrinhas: uma branca e uma verde, as cores do meu time.
Um dia proibiram as tais pulseiras, virou tabu, contava-se cada coisa escabrosa que supostamente havia acontecido com quem, inadvertidamente, usava aquela pulseira de uma cor que queria dizer isso ou aquilo. Como exemplos hipotéticos, a amarela queria dizer que a pessoa estava disponível ou queria um beijo; a vermelha, que a pessoa queria sexo; a verde, só amizade e por aí afora, baboseiras desse gênero. Psicólogos foram ao Rádio, à TV, e aos jornais, pais, professores e autoridades foram ouvidos e alertados e, no final, as tais pulseirinhas de silicone, pelo sim ou pelo não, foram relegadas ao fundo de uma gaveta.
Agora são dois modismos, duas febres que tomaram conta de quase todos: a pulseira do equilíbrio e os adesivos nos automóveis, representando o número de pessoas da família, sem esquecer do gato, do cachorro e do papagaio, claro. Em suma, isso parece significar que atualmente todos somos desequilibrados, necessitados urgentemente de uma pulseira que nos ajude a superar tal condição danosa ao nosso “status quo”, ou estado atual; enquanto todos irmanados no espírito do “big brother”, ou grande irmão e do “olho que tudo vê” precisamos divulgar ao mundo quantos somos lá em casa.
Pelo menos até a chegada da próxima febre tupiniquim...
(A autora é advogada, empresária e estudante de pedagogia). Votuporanga kairosbrinquedos2009@hotmail.com