Vivemos em uma época de grandes avanços tecnológicos, que espanta inclusive os maiores visionários. Entretanto, todo o progresso trás consequências, que se não forem avaliadas previamente, atingem a sociedade como um todo.
Uma das maiores consequências do progresso é a degradação do meio ambiente. Acontece que a sociedade, ao invés de buscar soluções, resolveu culpar o agricultor e ponto final.
Sem dúvida nenhuma, o agricultor também tem sua parcela de culpa, porém deve-se explicar o que realmente ocorre nesse segmento.
Ao utilizar a palavra agricultor, é abrangido todos sem distinção. Seria como utilizar a palavra atriz, para definir a Fernanda Montenegro e a atriz pornô Júlia Paes. É preciso relatar o que realmente acontece no meio rural.
O agricultor não pode ter se quer uma vaca, pois a mesma não pode ir até a represa. A mata ciliar deverá estar intacta, enquanto na cidade o rio é sujo e imundo, cheios de lixo e esgoto.
O poço do agricultor não pode ser utilizado, pois ele não tem outorga, enquanto os grandes latifundiários utilizam a água indiscriminadamente sem nenhuma preocupação.
Os maiores ambientalistas, que lutam demagogicamente por um planeta mais limpo, têm seus escritórios nas grandes capitais, e ainda não abrem mão do bom ar condicionado. Comem comida industrializada, andam de carrões, viajam de avião, tudo por um planeta melhor, enquanto o pequeno agricultor é culpado pelo assoreamento dos rios.
As estradas de terra mais antigas possuem barrancos de até três metros de altura, sem nenhuma obra de captação das enxurradas, levando tudo para os rios, e o agricultor é culpado. As curvas de nível deveriam ser apoiadas pelo poder público, todavia quando o coitado vai plantar uma rocinha, não aparece ninguém para orientá-lo.
Se uma árvore, ainda que esteja prestes a cair sobre uma casa, tiver que ser derrubada, é necessário uma série de documentos, e a demora chega a ser ridícula. Se o agricultor derrubar por conta, no dia seguinte a fiscalização chega. Quando a situação é com as grandes usinas de cana, derrubam-se centenas de árvores, cavam-se buracos enormes para enterrar as mesmas, e todo mundo aceita sem reclamar. Não precisamos de imagens de satélite para ver quantas aroeiras, angicos dentre outras se extinguiram de nossa região para plantação de cana.
As grande empresas de defensivos criam produtos, investem milhões na sua divulgação, porém não estão preocupadas com quem vai aplicá-los. O brasileiro usa o veneno, sem conhecer o princípio ativo e suas consequências para a saúde. Faz misturas sem saber se há sinergismo ou antagonismo entre as fórmulas.
O morador da cidade é tratado de maneira diferente. Nem a área de permeabilidade é fiscalizada de maneira eficiente. As indústrias jogam materiais pesados no ar, e está tudo certo.
O resultado é um êxodo rural absurdo, que culmina com catástrofes, como ocorrida na região serrana do Rio de Janeiro, onde todo mundo diz a mesma coisa: “e agora? Eu não tenho para onde ir”.
Parece que todo mundo quer um ambiente melhor, porém de longe. É como defender a onça pintada, mas lá no mato. É muito fácil colocar o dedo no agricultor. Abrir mão da comida ninguém abre. Você já imaginou se o agricultor produzir alimento somente para o sustento de sua família. Vamos comer o que? Papel? Não dá, pois até o papel é feito no campo. Pense nisso...
Antônio Lima Braga Júnior - Votuporanga - toninho.braga@hotmail.com