Atualmente é comum ouvirmos a afirmação de que vivemos na “era da informação”. Realmente vivemos num tempo cuja informação é transmitida em grandes quantidades e velocidade. A internet, uma das maiores invenções da humanidade, possibilita aos homens terem acesso a informações antes privilegiadas à determinada parcela da população. Temos acesso até a informações de “segurança máxima”, como foi bastante alardeado com o caso do site WikiLeaks que divulgou dados confidenciais do governo norte americano em 2010.
Precisamos analisar sobre este momento. Informação não significa necessariamente conhecimento. O fato de termos acesso facilitado a diferentes conteúdos não significa ponderação e reflexão sobre eles. A maioria de nós lida com mais informação do que é capaz de assimilar. Nesse sentido, a internet possibilita outros efeitos curiosos.
Na área da educação, por exemplo, temos acompanhado uma de suas grandes mazelas crescerem de maneira exponencial: a cópia, que chamo de desonestidade intelectual. Tal fenômeno está presente em todos os níveis educacionais, desde o aluno do ensino médio até o professor pós-doutorado de uma grande universidade. Houve um acontecimento envolvendo um amigo professor cujo orientando de monografia chegou a ele com um capítulo pronto. Ao ler as primeiras linhas notou que o aluno havia retirado grande parte do trabalho da internet, mas o mais intrigante era que o aluno havia copiado um texto do próprio professor! O espanto acabou sendo de ambos.
O caso relatado acima também é exemplar quanto à fonte assimilada. O aluno poderia ter tido o trabalho de ver quem era o autor, o que não fora feito. É comum retirarmos informações da internet sem sabermos qual a fonte de origem. Parece que basta estar no mundo on line para o conteúdo ser “verdadeiro” e fidedigno. Não, não é! Sobre determinados assuntos há lugares próprios para pesquisa. Não se pode dar o mesmo valor para as diferentes fontes. Nesses casos, é importante fazer uma pesquisa da pesquisa. Isto pode evitar que um equívoco seja produzido em série.
Um exemplo: dias atrás estava pesquisando uma tradução para o português de um poema alemão. Na primeira tradução que encontrei pressenti que estava alterado determinado trecho do texto. Passei a procurar em outras dezenas de sites e encontrei a mesma tradução. Injuriado com o texto fui à busca do livro traduzido para a língua portuguesa. Realmente, o escrito da internet que apareceu em vários artigos (ou seja, copiado e colado) estava errado, o que fora confirmado pela leitura da obra do tradutor (pesquisador da obra original). Bastou estar em um site de muitos acessos para uma equivocada tradução ser transmitida sem qualquer crítica.
Efetivamente, creio não estarmos sequer lendo o conteúdo plagiado. Alguns educadores acham interessantes alunos que copiam o trabalho da internet, pois isso os forçaria ler o texto. Não acho que isto venha ocorrendo. A acessibilidade à informação, na verdade, tem criado uma grande preguiça intelectual. É preciso uma educação para a pesquisa. Não basta saber ler, digitar no Google e acessar o primeiro site que aparece na lista para fazer uma boa análise no mundo virtual.
O mundo on line é algo excepcional e de grandes possibilidades. Há alguns anos se quiséssemos ter acesso a um manuscrito de um filósofo medieval, por exemplo, teríamos que nos dirigir a uma biblioteca européia; hoje conseguimos fazer isso na sala de estar em nossa casa. E por falar nisso, agora mesmo, escutando Kind of Blues de Miles Davis on line, procurarei um artigo de um especialista sobre o mundo virtual para embasar ou contrapô-lo à minha posição; e, no meio da pesquisa, enviarei um email para um amigo que há muito tempo não vejo, sem me esquecer de verificar as notícias que só amanhã chegam impressas aqui em casa. É o mundo virtual, é o mundo virtual...
Émilien Vilas Boas Reis é Mestre e Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professor de Filosofia do Direito e Metodologia de Pesquisa na Escola Superior Dom Helder Câmara