A escolha de José Graziano para o cargo de diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) não é uma vitória apenas pessoal do ex-ministro nem representa uma conquista política só do governo brasileiro. A eleição do ex-ministro para dirigir a principal entidade da ONU voltada ao combate à fome no mundo, nos próximos quatro anos, é um reconhecimento aos esforços do Brasil para reduzir as desigualdades sociais no país ao longo do governo Lula.
Graziano teve apoio da presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula em função do seu trabalho à frente do Ministério do Desenvolvimento Social. As ações do ex-ministro foram fundamentais para o sucesso de programas como o Fome Zero e Bolsa Família, que resultaram no resgate social de mais de 28 milhões de pessoas que viviam abaixo da linha de pobreza no país.
Na FAO, o trabalho de Graziano não será fácil. O orçamento da entidade para o período 2012/2013, primeiro ano da gestão do brasileiro, será de US$ 2 bilhões, o que representa um terço do que o Brasil destina ao programa Bolsa Família. No entanto, Graziano já demonstrou sua capacidade de organização e de gerenciamento e tem tudo para desenvolver um trabalho capaz de reduzir o flagelo da fome no mundo.
O Brasil também já mostrou que é possível enfrentar as mazelas sociais e seus danosos efeitos a partir de programas de inclusão bem elaborados e bem administrados. Corrobora essa análise não só a eleição de Graziano para a direção-geral da FAO, mas também a divulgação de estudo recente da Fundação Getúlio Vargas, que aponta o Brasil como o líder na redução das desigualdades sociais entre os países emergentes.
Chamado de “Os Emergentes dos Emergentes”, o estudo mostra que e a evolução dos indicadores sociais do país supera a de países como Rússia, Índia, China e África do Sul, integrantes do bloco conhecido como Brics, do qual o Brasil também faz parte. Nos demais integrantes do bloco, a relação é a oposta.
Marcelo Neri, economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, afirma que a desigualdade está caindo muito mais no Brasil do que em outros emergentes. O estudo coordenado por ele mostra que, a partir de 2003, anualmente, a renda familiar brasileira tem crescido em média 1,8 ponto porcentual acima do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). É a melhor relação entre geração de riquezas pelo país e o crescimento da renda da população, de acordo com o levantamento. Na China, por exemplo, a relação é inversa. No país que tem registrado as maiores taxas de crescimento econômico do planeta, a renda familiar vem crescendo dois pontos porcentuais abaixo do PIB do período.
Para Neri, a explicação está nas políticas de inclusão do governo. “Aqui o microssocial está evoluindo melhor do que o macroeconômico”, ressalta. Esse comentário permite concluir que é possível obter crescimento econômico aliado a melhorias das condições de vida da população. Tanto, que outro estudo do Instituto Gallup, realizado em 146 países no ano de 2009, aponta o brasileiro como recordista em perspectiva de felicidade. A nota do Brasil foi de 8,7 numa escala de zero a dez, bem à frente da China, 92º colocada, com 6,4 pontos e da Índia, que aparece no 128º lugar, com 5,7 pontos.
Graziano vai levar para a FAO muito da experiência brasileira e ainda poderá contar com o auxílio do nosso governo na busca pelo aumento dos recursos da entidade. Para convencer a ONU a aumentar o orçamento da instituição, o brasileiro conta com o melhor dos argumentos: os programas de combate à fome do Brasil, que deram ao mundo uma lição de competência gerencial, solidariedade e cidadania.
Edinho Silva - Deputado estadual, presidente do PT do estado de São Paulo e ex-prefeito de Araraquara (2001-2008)