“Os limites de minha linguagem denotam os limites do meu mundo”. Essa frase, de autoria de Ludwig Wittgenstein, excepcional filósofo austríaco, explicita, de forma muito eficaz, a importância da linguagem, ou seja, da palavra. Quanto maior for o vocabulário de um individuo, maior é o seu mundo. Daí a importância da palavra para o profissional de Direito.
O profissional de Direito necessita, para o exercício de sua profissão, de uma consciência desenvolvida, de um mundo muito amplo já que, para se fazer justiça, muitas vezes, a aplicação fria das normas não é suficiente sendo necessária uma interpretação, uma análise mais profunda observada a partir de diferentes ângulos e perspectivas.
A palavra é, então, a responsável por essa interpretação à medida que se percebe que, tudo que pensamos tem um nome, um símbolo e que vivemos em um universo fundamentalmente simbólico.
São através desses símbolos, as palavras, que o homem é capaz de “desprender-se” de seu meio ambiente imediato, tomando consciência de espaços não acessíveis aos seus sentidos no aqui e agora. Ou seja, torna-se capaz de pensar, imaginar e criar uma realidade a partir dessas representações. E essa realidade é revelada aos outros através, também, da palavra.
A palavra, portanto, ao mesmo tempo que confere um sentido ao mundo, criando uma realidade, proporciona ao indivíduo o acesso ao outro, possibilitando a comunicação entre os seres humanos. Apesar de não ser a única forma de comunicação, a palavra é o instrumento mais universal de transmitir uma mensagem. Essa mensagem que é, na verdade, um discurso, é o objeto principal com o qual o profissional do Direito executa sua função.
O discurso desse profissional é inteiramente dependente dessa linguagem universal já que, é através dela, da palavra, que pode atingir o outro ser humano. É através dela que pode expor suas idéias e fazer suas defesas ou acusações.
O domínio, portanto, dessa forma universal de comunicação é de fundamental importância para o objetivo a ser alcançado. Porem, muitas vezes, o que se fala não é o que o receptor entende, sendo, por isso, demasiado útil o emissor dominar esses símbolos para ser capaz de manipular esse entendimento do receptor, ou seja, persuadi-lo para que seu trabalho seja executado da melhor forma possível.
Com palavras certas e nas horas propícias, o emissor convida o receptor a aceitar sua verdade, a participar de seu mundo, a envolver-se com seus argumentos e, finalmente, induzir o receptor a acreditar nesses argumentos. É com palavras que o advogado, por exemplo, ao montar um discurso, desenvolve sua argumentação. Seu discurso necessita, no entanto, de graça, de poesia, de palavras ambíguas e misteriosas para que consiga atrair a atenção do receptor. A dúvida e o mistério acabam por fascinar o receptor, atingindo-o por mais tempo.
Há palavras bonitas, feias, marcantes ou, até mesmo, violentas que, se fizerem parte do mundo do emissor, e se forem usadas de maneira adequada, serão capazes de seduzir e influenciar uma determinada decisão. Por exemplo: É diferente dizer “Este homem matou duas crianças enforcadas” de “Este assassino enforcou duas crianças indefesas”. Qual é, em sua opinião, a frase de maior impacto?
É exatamente nessas horas que se faz presente a necessidade de um mundo amplo, de uma consciência vasta, de um vocabulário extenso para se desenvolver um discurso. O seduzir e o persuadir também necessitam estar presente nesse discurso, porém, de uma forma equilibrada para que este seja completo e eficaz.
A persuasão à medida que se utiliza da lógica e do raciocínio torna-se extremamente necessária para fundamentar os argumentos expostos, enquanto a sedução, ao envolver emoção, procura comover e atrair o receptor, seja estimulando os sentidos, a imaginação, gerando uma aproximação, transmitindo mensagens implícitas ou mesmo oferecendo ao receptor algo que o fascine, diferentemente do seu mundo.
E tudo isso só é possível pela existência da palavra uma vez que ela é vista como a expressão de uma pessoa. É através dela que a comunicação é possível. É com esse instrumento chamado palavra que o profissional do Direito se utilizará de analogias, se fará entender. É através dela que a imaginação é posta à prova, criando um clima favorável, um ambiente, um cenário onde o ator principal, o profissional do Direito, se torna apto a manipular à favor de sua causa.
*Dra. Fernanda Bazanelli Bini é advogada do Escritório Bini Advogados de Piracicaba, atuante na área médico-hospitalar e especialista em direito desportivo