Os movimentos populares recentes nos países árabes, que repercutem pelo mundo e já contribuíram na deposição de ditadores – especialmente o caso da Líbia, recentemente -, apontam uma mudança importante. Os grupos de pressão evoluíram com a internet. Eles adquiriram maior maturidade, entendem as plataformas, organizam-se e se manifestam contra o que não concordam. Um novo perfil, que agora se estende também à política.
Essas manifestações do Oriente Médio na internet tiveram início há dois anos, em 2009, durante as eleições iranianas. Até então, no contexto de manifestações culturais e políticas ao redor do mundo, era necessário um conjunto centrado de enormes esforços para que grandes transformações e expressões públicas viessem à tona. Hoje, pequenas ações, trocas e movimentos repercutem de maneira efetiva e tendem a gerar um grande impacto e comoção coletiva.
No caso do Irã, cada vídeo de protesto que era enviado e cada informação disseminada repercutiam rapidamente e ficavam arquivadas e perpetuadas. Na Líbia, os protestos iniciaram quando ativistas se opuseram via redes sociais ao mandato ditatorial de Kadafi, convocando um “Dia da Ira” para 17 de fevereiro, reclamando sua renúncia. Eles criaram uma página na internet para publicar informações a respeito. A antropóloga Margaret Mead, com sua frase “nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos preocupados e comprometidos possa mudar o mundo”, jamais esteve tão certa.
As marcas pessoais manifestam-se de maneira mais forte e de maneira mais influente por conta dos meios virtuais. Casos como de iranianos feridos durante as eleições, de líbios ganhando força a cada dia ou da blogueira cubana, que utiliza a internet para falar sobre o cotidiano de seu país, puderam ser conhecidos e ganhar notoriedade pelo mundo por intermédio da web.
Líderes totalitários se perguntam agora se é melhor aliviar a liberdade ou apertá-la ainda mais. A tendência é que, sistematicamente, haja algum alívio nestas restrições. Mesmo porque parece ingenuidade censurar ferramentas como o Twitter na esperança de que este seja um meio efetivo de conter uma movimentação que se reflete nas ferramentas, mas não é parte essencialmente delas.
É verdade que plataformas como o Wikileaks e o Twitter (nos quais todos podem ser influenciadores) representam um desafio a este conceito por sua eficácia em um tempo em que tudo é mais social e todos se conectam, mas estes servem muito mais como um facilitador para o contexto dos cidadãos que foram às ruas. Há toda uma conjuntura política a social que ganha maior plasticidade. A questão é muito maior do que a tecnologia em si: é, sim, sobre um contexto enraizado, histórico e de mudança na estrutura de poder que se reflete na tecnologia.
Assim como a web tem impactado na organização de manifestações sociais e o acesso do mundo a notícias sobre o que acontece em países com restrições políticas à informação, é também preciso entender que revoluções sociais não ocorrem do dia para a noite. Há toda uma conjuntura histórica, econômica e cultural que determina este cenário de modo muito mais complexo. Basta observar com mais atenção a repercussão e desdobramento destas manifestações. A internet, entretanto, é uma ferramenta poderosa para dar corpo às mudanças de perspectivas políticas ao redor do mundo.
Gabriel Rossi é estrategista de marketing digital e diretor da Gabriel Rossi Consultoria