Olhe ao seu redor e tente se colocar no lugar de quem tem algum tipo de deficiência. Seu restaurante preferido tem cardápio em Braille? Você conseguiria circular pela sua loja de departamentos favorita se estivesse em uma cadeira de rodas? A escola do seu filho está pronta para receber um aluno surdo? E no local onde você trabalha? Os funcionários são orientados para atender clientes com deficiência?
O Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência é comemorado em 21 de setembro. Nada mais apropriado do que aproveitar a época para debater o tema com profundidade. Afinal, 30 milhões de brasileiros enfrentam barreiras, diariamente, para desempenhar tarefas que o restante da população considera triviais, como fazer compras, passear na rua ou ir a um barzinho.
Quase sempre as discussões sobre acessibilidade ficam restritas à locomoção nos espaços públicos. Este é um ponto importantíssimo, pois o direito de ir e vir com autonomia é um dos mais básicos da nossa sociedade. Mas de nada adianta chegar a um lugar que não está preparado para reconhecer as diferenças e trabalhar para que o serviço seja prestado com a mesma qualidade a todos. Instalar rampas e nada mais não passa de hipocrisia.
O acesso à cultura é pouco lembrado, mas tem enorme importância nesse debate. Afinal, ela é parte indissociável da cidadania plena, além bem simbólico imprescindível para construção de ideais, de personalidades, de percepções sobre o ambiente das relações humanas. Somente a cultura transforma as pessoas e ter ou não acesso a bens culturais é determinante para vários aspectos da vida.
A questão, portanto, vai muito além da mera reserva de lugares para cadeirantes em teatros ou cinemas. O que fazer para que uma pessoa com deficiência visual possa vivenciar uma exposição de arte? Como possibilitar que alguém com deficiência intelectual possa se inserir no mercado da produção cultural?
Existem meios e tecnologias que abrem essas possibilidades e vários já estão sendo empregados nos equipamentos culturais públicos de São Paulo. A exposição Olhar com outro olhar, no Museu do Futebol, foi um belo exemplo disso, possibilitando a deficientes visuais a oportunidade de “tatear” fotografias, transformadas em esculturas em alto relevo. O extenso acervo em Braille e audiolivros da Biblioteca São Paulo - referência em acessibilidade universal - é outro bom exemplo.
A acessibilidade precisa estar presente na própria filosofia que norteia as instituições, culturais ou não, públicas ou particulares. Que neste 21 de setembro toda a sociedade pare para pensar em novas formas de construir um mundo realmente inclusivo.
* Andrea Matarazzo é secretário de Estado da Cultura e Mara Gabrilli é deputada federal (PSDB-SP)