*Marcio Tadeu Reiberti A. de Camargo
Nestes dias, uma criança com pouco mais de sete anos perguntou-me: o que é a verdade? No ímpeto por não decepcioná-la, quis responder como um pensador, mas, percebi que isso de nada valeria. Então, depois de um breve momento de reflexão, ansiei por encontrar alguns exemplos. Pensei, pensei e nada. Para meu alívio, os pais dela chegaram e mudou-se o assunto. Não deixei de ficar intrigado com o desejo de explicar o que é a verdade. Achei um caminho: se eu seguisse o método de exclusão, teria muitos exemplos. Assim, ligaria a televisão e diria: veja, isto é mentira, a verdade é o contraio disso. Mas, pensando melhor, este meio de comunicação social fica mais tempo com ela do que eu, seus pais, ou até mesmo seus professores. Em quem ela acreditaria? Depois de refletir mais, consegui chegar à crise que vem se arrastando desde a modernidade que postula que nós não conhecemos realmente a verdade. Ou, ainda, que ela seja tão abstrata e tão inalcançável que nunca iremos conseguir atingi-la. Embora, não acredite nisso! Continuei refletindo, e lembrei-me que é consenso entre os pensadores que a verdade dá suporte à Ética. Descobri o porquê do problema ético atual. Se estamos mergulhados numa grande crise deste valor universal, consequentemente ela atinge a Ética.
Parece claro que não sou só eu e aquela criança que sofrem com a angústia pelos preceitos universais. Expressões sociais como a política, a ciência, a religião estão perdidas num emaranhado de discursos, conhecimentos e devoções descomprometidas com a realidade. Os políticos só lutam pelos interesses daqueles que patrocinaram suas campanhas milionárias, a ciência atrelou-se ao “mito do não sofrer”, a fé que borbulha em cada esquina parece buscar cada vez mais o sucesso individual em vez de uma transformação social. Caí na tentação de concluir que alguma destas instituições sociais precisaria dizer o que é a verdade. Contudo, como a história já nos provou, nenhuma delas, sozinha, pode validar o que é ou não a verdade, pois isto se transforma em poder. Nem tão pouco, pode-se criar uma verdade democrática, já que o conhecimento e as oportunidades não são distribuídos eqüitativamente e os meios de comunicação social servem mais para defender os interesses da elite dominante em detrimento à maioria. Por alguns instantes fiquei sem esperança. Mas me lembrei do sorriso daquela criança que me perguntara o que é a verdade. Pois, o que a impulsionou a me questionar não foi uma mera curiosidade, mas, sim, a força de conhecer, de crescer, de transcender, de fazer diferente, de viver. Assim, percebi que a verdade não mora na resposta, mas na pergunta: a verdade é a vida. Por isso, descobri o porquê de todas as religiões dizerem que essa verdade não acaba, não morre, não tem fim. Descobri o porquê da luta das ciências em prolongar o sentido biológico da vida, muitas vezes, a qualquer custo.
Marcio Tadeu Reiberti A. de Camargo é pároco