Em fatos ainda bastante recentes, os gregos estão tendo que lidar com uma crise econômica que pode atingir grande parte da Europa, e, de acordo com o FMI, pode também afetar os Estados Unidos e a América Latina. O Estado grego está praticamente falido. O déficit público anual é enorme. O país vem recebendo parcelas de empréstimos que totalizam a casa de 110 bilhões de euros, e outro empréstimo (109 bilhões de euros) está sendo sondado para se tentar conter o colapso financeira.
As manifestações populares vêm ocorrendo desde o ano passado, mas se acentuaram nos últimos dias devido às compensações pedidas pelos órgãos governamentais e financeiros ao governo grego. O inchado estado grego possui cerca de 750 mil funcionários. Até 2015 a Grécia necessita cortar 600 mil empregos públicos, se quiser continuar recebendo ajuda financeira.
O resultado de tais exigências é que o funcionalismo público está todo em greve, e outros serviços fundamentais (escolas e aeroportos, por exemplo) não estão funcionando. A Grécia está literalmente parada.
Mas quando nos referimos à Grécia, o que nos vêm à mente é o fato dela ser o nascedouro da civilização ocidental. O ocidente, na verdade, é uma junção de duas grandes tradições: a) a tradição helênica; e b) a tradição judaico-cristã. Discorreremos sobre a primeira.
Quem sabe você nunca tenha lido uma linha sequer de Homero (Ilíada, Odisséia) ou Hesíodo (O Trabalho e os Dias, Teogonia), mas em nosso imaginário ocidental carregamos a coragem de Aquiles, a beleza de Helena ou a inteligência de Ulisses.
Talvez você desconheça os trágicos Ésquilo (525/24 a.C- 456/55 a.C – p.ex. Sete contra Tebas, As Suplicantes), Eurípedes (480 a.C – 406 a.C – p.ex. Medéia, As Bacantes) ou Sófocles (497/96 a.C – 406/405 a.C - p.ex. Édipo Rei, Édipo em Colono, Antígona), porém todos eles foram capazes de explicitar várias disposições e caráter dos seres humanos. Se você já se sentiu injustiçado pelo Estado, se já pensou em matar por ódio, você está muito próximo de ser um personagem de uma tragédia grega.
Pode ser que você nunca tenha ouvido falar de Sólon (638 a.C – 558 a.C) ou Péricles (495/92 a.C – 429 a.C), mas se pensamos ainda hoje em política como democracia é porque tudo começou com estes estadistas e legisladores.
Personagens como o historiador Heródoto (485 a.C – 420 a.C), o médico Hipócrates (460 a.C – 377 a.C), o matemático Euclides (360 a.C – 295 a.C) e o inventor Arquimedes (287 a.C – 212 a.C) talvez nos remetam a alguma coisa distante. Mas tais autores marcaram seus nomes na história como precursores em suas áreas.
Se criamos mais uma forma de interpretar o mundo, indo além do mito e nos valendo do logos (razão), isso se deveu ao surgimento da filosofia e de filósofos como Tales de Mileto, Pitágoras, Heráclito ou Parmênides. Além do mais, ética, política, lógica, metafísica, antropologia e estética tiveram como criadores ou sistematizadores Sócrates e dois dos maiores pensadores de todos os tempos: Platão e Aristóteles.
Depois do “milagre” grego, o mundo helênico passou a ser visado por sua rica cultura. Vários povos invasores (persas, macedônicos e romanos) tomaram tal civilização como referencial. Jamais teremos uma cultura como a grega novamente. Uma pena que atualmente os gregos sejam mais lembrados por suas trapalhadas econômicas do que por seu fundamental lugar na história ocidental.
*Émilien Vilas Boas Reis é graduado em Filosofia