Na semana passada depois de uma seca que parecia não ter fim, o céu ficou cinzento e a chuva caiu timidamente melhorando um pouquinho a qualidade do ar. Fiquei olhando pela janela que não chegou a embaçar, e pude apreciar um dos maiores espetáculos da natureza: a chuva. O tão esperado evento climático transportou-me ao passado, quando ainda era criança no bairro Vila Paes. Quem tem entre 40 e 50 anos vai se recordar daquele local, onde havia um enorme buraco que cortava o bairro de fora a fora.
Os pingos de chuva que caíam me fizeram sentir saudades de um tempo, onde as ruas eram de terra batida, e mesmo assim éramos felizes. Naquele tempo, quando a chuva chegava, diferentemente do que é hoje, sentia-se um cheiro gostoso de terra molhada que foi se perdendo ao longo dos anos com a chegada do asfalto e o do concreto das calçadas. O barro que se formava era mais um recurso para as brincadeiras. A galera saía para as ruas com chinelos nas mãos, e andava na enxurrada sem a menor preocupação com infecção de qualquer natureza. Queríamos simplesmente viver, e ver a vida passar lentamente, sem essa neurose de ter que decidir qual profissão seguir no futuro.
Depois de irmos à escola, nosso passatempo predileto era brincar naquela cratera gigantesca por horas e horas. Minha mãe não gostava muito de saber que estávamos lá, com medo de algum tipo de acidente, mas mesmo assim, desafiávamos o perigo em nome da alegria de poder brincar livremente.
Naquela época havia muitas brincadeiras como pega-pega, esconde-esconde, bola de gude, pião, bate figurinha e muitas outras que faziam o maior sucesso, pois todo mundo gostava. O bilboquê, um brinquedo que há tempos não vejo, era um dos preferidos.
Não se falava em violência, drogas, bebidas ou quaisquer outras mazelas criadas pelo mundo moderno. As ruas eram mais seguras, pois havia poucos carros transitando por elas. Andávamos muito a pé de um lado para o outro e ninguém reclamava disso.
Lembrou-me quando meu pai comprou a primeira TV, e nós ali tentando entender como àquelas pessoas falavam lá dentro do aparelho. Hoje damos boas gargalhadas quando relembramos do fato. A novela Mulheres de Areia era exibida, e se não me falhe a memória, a protagonista era a atriz Eva Vilma que parece não envelhecer e continua linda.
Dos muitos amigos, alguns já não estão mais entre nós e foram morar com Deus. Outros fixaram residência em cidades distantes e nunca mais os encontrei.
Um episódio que jamais esqueço, foi quando eu e meus amigos passeávamos pela Praça São Bento pedindo boas festas de ano novo de casa em casa, e de repente nos deparamos com uma pessoa trajando calça Jens. Nunca tínhamos visto uma até então, mesmo porque era minha mãe quem fazia nossas roupas numa antiga máquina de costura.
As chamadas brincadeiras realizadas com uma sonata azul da marca Phillips, as quais meus irmãos mais velhos promoviam nos finais de semana, atraíam centenas de jovens. Eu e o Lazinho, apenas olhávamos pela fresta da porta os rapazes usando calça boca de sino, e as moças com penteados provavelmente copiados de artistas que apareciam em revistas da época.
Ainda criança, vi de perto a construção da galeria e uma centena de caminhões transportando terra para cobrir a erosão. O tempo foi passando e o progresso que é importante e invevitável, foi tomando conta do bairro Vila Paes, que se transformou depois do grande investimento realizado pelo então prefeito João Nucci. Quero finalizar meu artigo, afirmando que um pouco de nostalgia faz um bem enorme, especialmente para quem um dia teve o privilégio de passar por aquele local e fazer eternos amigos.
Boa recordação
José Carlos do Lazão- Vereador