Atualmente a dengue representa a doença viral transmitida por vetor mais disseminada no mundo. Seu enfrentamento está intimamente ligado às decisões dos gestores na adoção de políticas de saúde pública que devem levar em conta a introdução e a reintrodução de novos sorotipos, a circulação de cepas de maior virulência, a população suscetível e a densidade do mosquito Aedes aegypti nas cidades.
A doença depende de um vetor cuja proliferação tem forte relação com o modelo de consumo e urbanização das cidades às quais está confortavelmente adaptado, com o agravante: sua curva epidemiológica é modulada pelas condições climáticas.
A combinação de altas temperaturas com chuvas abundantes é explosiva para o Aedes. Temos experimentado essa realidade nos últimos anos, o que ampliou o período sazonal da doença e diminuiu o tempo para que planejássemos as ações de prevenção e controle.
O estado de São Paulo enfrenta a dengue desde 1987, quando foi identificada a circulação do vírus 1. Nestes últimos 24 anos o sistema de vigilância em saúde paulista monitora a circulação viral, o que tornou possível a detecção da entrada da variante 2 em 1997, da 3 em 2002 – quando registramos a circulação dos três vírus concomitantemente – e agora, em 2011, da variante 4. O cenário de São Paulo acompanha e reflete o cenário de diversos estados brasileiros, lembrando que o vírus segue seu curso e não respeita demarcação territorial.
A infestação de Aedes aegypti ocorre hoje em praticamente todo o território paulista, sendo que as áreas de maior vulnerabilidade se concentram ao norte e no litoral.
A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo tem colocado todo seu arsenal técnico em campo para essa batalha. A Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) faz, permanentemente, pesquisas entomológicas que subsidiam os planos de ação elaborados de forma conjunta com os gestores municipais. O Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) monitora os casos a partir das notificações, avalia o comportamento da doença e estabelece a interlocução com a assistência. O Instituto Adolfo Lutz processa os exames diagnósticos e de isolamento viral que indicam espacialmente os sorotipos circulantes no Estado.
As áreas técnicas da Coordenadoria de Controle de Doenças e da Sucen elaboraram o Plano Estadual de Intensificação das Ações de Vigilância e Controle da Dengue. Entre as ações previstas está a preparação do sistema de saúde para atender às pessoas doentes. O diagnóstico clínico eficiente e a rápida identificação dos sinais de gravidade são armas poderosas para evitar mortes por dengue.
Para isso, o Estado prepara um modelo de treinamento para médicos e enfermeiros que atuam nas portas de entrada – Unidades Básicas de Saúde e prontos-socorros – e organiza sua Rede Regionalizada de Atenção à Saúde para propiciar triagem adequada, melhor acesso e acompanhamento dos casos potencialmente graves.
Segundo Eric Martinez, especialista da Organização Pan-americana da Saúde, que acumula experiência teórica e prática no enfrentamento da dengue, “tão importante quanto evitar a transmissão da dengue é o preparo dos sistemas de saúde para atender adequadamente os doentes e evitar que morram”. E completa: “um bom administrador de saúde é capaz de salvar mais vidas durante uma epidemia de dengue que os médicos e os intensivistas”.
*Marcos Boulos, médico infectologista