Em continuidade às reflexões iniciadas sobre o tema da avaliação escolar, abordaremos, hoje, o necessário e crucial olhar sobre as metodologias empregadas em nosso fazer pedagógico, que nos conduzirão no horizonte de nosso projeto pedagógico ou em sua contramão.
Após termos planejado as unidades de ensino e aprendizagem da nossa área de conhecimento, em sintonia com outras áreas afins, é preciso escolher e construir as metodologias que possibilitarão a construção das habilidades e competências que julgamos fundamentais ao estágio de desenvolvimento cognitivo, moral e psicossocial no qual o aluno se encontra.
Falar em método é referir- se ao jeito de caminhar do educador que possibilita e favorece aos alunos formas diferenciadas de construir o saber. Inicialmente, constatamos um vício muito enraizado em nossa pedagogia em sala de aula, que consiste na metodologia única. Aqui, cabem duas palavras. Por um lado, cada um de nós, professor, tem sua própria sensibilidade e forma de abordar os diferentes temas. E não poderia ser diferente. Afinal, estamos sempre inseridos culturalmente e somos resultado de nossas escolhas e cultivos. Por outro lado, a nossa vocação e missão educativa nos coloca em comunidade de parceiros de um mesmo processo de ensino e aprendizagem, no qual há múltiplas sensibilidades e inteligências, que necessitam de ser percebidas e alimentadas. Aqui, está um dos nossos maiores desafios e problemas: inteligências múltiplas requerem metodologias múltiplas, que despertem e cultivem as diferentes sensibilidades possíveis ao olhar humano sobre a complexa realidade em questão.
Considerando a integralidade do ser humano como foco de nosso projeto pedagógico, que inclui as dimensões afetivas e cognitivas, éticas e morais, psíquicas e sociais, transcendentes e imanentes, nossas metodologias costumam ser unidimensionais. Razão pela qual nos referimos ao vicio metodológico, pois normalmente a nossa atitude está concentra em um dos extremos metodológicos, comumente na falta da diversidade; embora, seja igualmente viciado o comportamento metodológico que busque a excessiva diversificação, que igualmente não permite o progressivo caminhar na construção de uma inteligência da complexidade do real.
Na atenção aos melhores caminhos e às melhores formas de caminhar, é preciso ficar atento à qual habilidade ou competência a referida metodologia se refere. Essa atenção costuma estar ausente em nossa prática pedagógica. Há temáticas ou desafios de aprendizagem que requererem essencialmente a solidão do aluno, seu mergulho silencioso em si mesmo. E essa etapa não pode não ser cultivada. Quanto mais a aula estiver centrada no professor, menos espaço propiciamos para essa imprescindível atitude. Da mesma forma, a socialização das diferentes percepções realizadas pelos alunos deve ser estimulada na oficina da sala de aula, uma vez que subjaz a concepção de que o conhecimento é resultante de processo de construção intersubjetiva.
A cultura contemporânea, cultura pós-moderna, é a cultura do click, que busca sempre nova e melhor imagem. Nesse contexto dinâmico, as pessoas muitas vezes encontram-se viciadas e dopadas de imagens, fixadas na superficialidade das sombras, aparências e ilusões tão bem descrita por Platão, em sua alegoria da caverna. Se, então, a cultura contemporânea traz, positivamente, a marca dessa sensibilidade visual, é aconselhável que cultivemos essa sensibilidade. Contudo, nessa dinâmica, o nosso desafio é educar o olhar para ver além do que aparece. A falta de profundidade que corriqueiramente constatamos no olhar de nossos alunos é também reflexo da falta de tempo que dedicamos para o cultivo dessa radicalidade no olhar. E isso, muitas vezes, é decorrência de nossa equivocada concepção de que não podemos dar tempo a isso, pois há um programa a ser cumprido.
Essa fixação em um programa a ser cumprido, e cumprido não de qualquer forma, mas de forma expositiva pelo professor impede o mergulho e a concentração em metodologias que trazem, em si, toda a potencialidade para proporcionar a construção de competências e habilidades em nossos alunos, que dispensariam o foco na aula expositiva e proporcionariam caminhos de aprendizagem verdadeiramente significativa. Com efeito, as metodologias centradas na interação, vinculadas ao momento da necessária solidão de cada estudante fomentam o próprio processo de aprendizagem, em ritmos diferentes da aula expositiva. E se esses ritmos são, inicialmente, mais lentos, eles o são por serem verdadeiramente mais profundos, pois essa é uma das condições do amadurecimento que não queima etapas, que vem com rigor, coerência e articulação.
Recordando o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, desenvolvido por Vygotsky, a metodologia que proporciona a atividade coletiva de alunos que se encontram em estágios, ritmos e tempos diferentes, mas aproximados, é estratégia privilegiada para a investigação da temática em questão. Isso, contudo, requer que nós professores nos identifiquemos e reconheçamos com educadores, que sabem deixar de ser o centro de referencia. Se tivermos essa aprendizagem, o nosso fazer pedagógico irá fluir com leveza, alegria e prazer compatíveis e condizentes com os surpreendentes frutos que iremos colher, especialmente a progressiva maturação dos estudantes, na construção de sua autonomia intelectual e ética, afetiva e psicossocial. Esse amadurecimento que iremos provocar constitui a raiz de suas competências e habilidades, que os transformam nos verdadeiros sujeitos do processo.
Quando Jean Piaget se refere à construção do conhecimento, ele fala da necessária apropriação e reapropriação, que deve ser fomentada por metodologias conscientemente escolhidas para tal fim. Por essa razão, uma das estratégias privilegiadas, em sala, diante dos demais colegas, é suscitar nos alunos a exposição de sua tese, de seu ponto de vista, da descoberta que fez e do percurso que construiu. Assim, alimentamos e cultivamos o confronto, abrimos espaço para a crítica e a participação, criando ambiente de comunidade investigativa; nessa dinâmica, educamos para o horizonte da democracia, no caminho da própria democracia.
Aos educadores que se dedicam na construção de caminhos que fazem caminhar...
*Celito Meier é teólogo e educador