O empenho pastoral para fazer com que nossas comunidades celebrem um Natal autêntico é difícil. O atual contexto sócio-cultural, com seus apelos para um natal mágico, consumista e turístico, aproveita uma forte tradição religiosa para transformar a festa cristã em festa pagã. Uma visão devocional e sentimental dos episódios da natividade do Senhor corre o risco de esvaziar, na mente dos fiéis, o significado do evento da encarnação. A graça própria da celebração do natal é a nossa adoção divina. Fazer-nos participantes da nobreza antiga, dada pela filiação divina, mas depois perdida por causa do pecado. Desse modo, passamos da condição de velho homem para condição de filhos de Deus. A verdadeira espiritualidade do Natal não consiste na imitação de Cristo do lado de fora, mas viver Cristo que está no meio de nós e manifestá-lo com a vida. As iniciativas natalinas (presépio, árvore de natal, caridade para com os pobres, missa do galo) devem ser inspiradas por forte carga evangelizadora por parte da comunidade fiel. O fruto espiritual do Natal consiste no empenho moral de viver a graça da redenção e da regeneração, de conservar interiormente o Espírito Santo que nos faz filhos de Deus. Portanto, a graça do Natal exige também uma vida de comunhão fraterna. Com Jesus também adquirimos capacidade para decifrar as outras mensagens que Deus nos manda hoje. Usando critérios do Evangelho, podemos olhar a vida e ouvir as pessoas por meio das quais somos capazes de perceber os apelos de Deus nos fatos concretos da vida. Aquele acontecimento do menino no presépio não é um ato mágico, é um fato normal. Em Jesus, Deus tornou-se humano, com todas as necessidades humanas. Isso nos convida a valorizar tudo o que é humano, a valorizar a vida em todos os sentidos e socorrer a fragilidade física dos irmãos. Isso nos permite perceber o quanto Deus se importa com as nossas dores, com o nosso corpo, com as nossas necessidades vitais. A encarnação de Deus em Jesus é o compromisso Dele com as nossas alegrias e tristezas, audácias e fraquezas no dia a dia. Na medida em que formos fiéis discípulos de Jesus Cristo, também nossa vida e nossa história serão uma palavra de Deus para nossos irmãos e irmãs, e mostrarão ao mundo o verdadeiro rosto de Deus: um rosto de amor. O Natal tem ainda uma grande força de apelo para todos, e esta ocasião não pode ser deixada de lado, a fim de que o homem, a família, a sociedade vejam a luz da mensagem do evangelho. Portanto, a celebração do Natal não pode ser desperdiçada em recordações sentimentais ou discursos vazios, mas valorizada como dom de amor, de verdade e de esperança para todos os homens do nosso tempo. A natividade do Senhor é a grande festa do homem porque é a festa de Deus que se faz homem. Que o Senhor Jesus Cristo vos encha de alegria e seu Espírito ilumine todas as vossas decisões para realizardes fielmente o projeto de Deus a vosso respeito. Acompanha-vos minhas orações e meus bons votos de Natal e Ano Novo.
Padre Gilmar Antonio F. Margotto - Paróquia Nossa Senhora Aparecida