No início dos anos 50, aqui em Votuporanga, não havia o colegial, portanto, quem quisesse ir a frente em seus estudos teria de se deslocar para outras cidades aquinhoadas com mais escolas. Não era nada fácil para os pais daquela época, mesmo porque manter um filho em outros lugares implicava em despesas extras para a família, desde o colegial, ou seja, muito cedo na vida de um jovem casal. Conheci muitas pessoas que se esforçavam heroicamente para proporcionar aos filhos uma escolaridade mais avançada. Outros, infelizmente, não conseguiam fazer isto. O Brasil daquela época ainda não oferecia tantas oportunidades como hoje. Quantos coleguinhas meus se frustravam por não poder dar continuidade aos estudos. Eu, felizmente, fui contemplado com pais que me proporcionaram as facilidades para enfrentar novos desafios, porém, mesmo muito jovem ainda, nunca perdi de vista e deixei de lamentar que esses meus amiguinhos não pudessem ter o mesmo encaminhamento. Por sorte, e com muito esforço, muitos deles conseguiram êxitos em suas empreitadas e hoje são profissionais formados e competentes. Muitos tiveram, me lembro muito bem, de estudar em cidades vizinhas, viajando até em carrocerias de caminhões, todas as noites, para conseguirem seus diplomas.
Mas, não estou comentando sobre isto para fazer lamentações, muito ao contrário, estou feliz por ver que hoje nossa cidade pode oferecer uma ampla variedade de cursos para nossos jovens. Nossa Fundação Educacional é exemplar, outras escolas superiores existem aqui e até, pelo que me consta, existe curso a distância emanado aqui de Votuporanga. A cidade está muito bem aquinhoada com escolas profissionalizantes e, apenas lamento por não existirem cursos superiores gratuitos bancados pelos governos. Quanto a esse lamento acredito que algum dia seja revertido. E, complementando esses parágrafos iniciais, deixo meu incentivo para que os jovens procurem estudar e aprender, que se esforcem e acumulem conhecimentos para que no futuro possam encontrar bons lugares para trabalhar ou, sendo empreendedores, tenham conhecimento para “tocarem seus negócios”.
E, porque estou comentando sobre estudos neste artigo? Muito simples: reuni esta semana amigos de escola dos anos 50. Quase todos acima dos setenta. Estivemos juntos por muitos anos, vivendo em pensões, republicas e colégios internos e nos tornamos uma confraria de amizade e respeito. Temos uma foto, com alguns desses, datada de 1958. Infelizmente daqueles que estão ali, na foto, já nos faltam dois que são o Zé Marão e o Verissinho. Os outros ainda estão por aqui, Graças a Deus, um monte de cabecinhas brancas, porém, uma boa “penca” de pessoas que durante suas vidas têm se dedicado a comunidade e são ótimos chefes de família. Todos nós sentimos orgulhosos uns dos outros. Todos convivemos as décadas que mexeram com o Brasil, momentos bons e momentos ruins, e ninguém se deixou levar pelos cantos de sereia que apareciam. Todos sempre trabalharam e, digo com satisfação, sempre foram exemplares, por mais simples e modestos que possam ser até hoje. Sempre é bom a gente se lembrar que também fomos jovens. E, é muito bom falar sobre isto, porque, principalmente os adolescentes que tiverem notícia desse artigo, possam iniciar desde já suas próprias confrarias, preparando-se para algum dia, daqui muitas décadas poderem se reunir e lembrarem da juventude e da própria cidade onde convivem. História é vida, boas lembranças é alegria.
Pois é, meus ilustres leitores, melhor falar sobre essas coisas do que ficar gastando tempo com as porcarias que nos são enfiadas cabeça a dentro todos os dias pela imprensa sensacionalista, pelas noticias dos já conhecidos sistemas de assalto aos cofres públicos, ou pelas tranqueiras exibidas nos tais de realitys shows. Por sinal nos meus tempos de jovem, esses realitys, possivelmente, seriam chamados de mundo cão. E, até penso, que hoje, os cães atualmente cheios de direitos, entrassem com alguma representação judicial por esse tipo adjetivo e comparação com esses desatinos. De minha parte, prefiro lembrar o bom passado.
*Nasser Gorayb é comerciante e colabora com o jornal aos sábados